Os vales na alta montanha de Gilgit-Baltistão, que foram outrora parte da antiga Rota da Seda da Ásia Central, estavam inacessíveis ao tráfego de veículos até à construção da Estrada de Karakoram em 1978. O aumento da acessibilidade, aliado ao impacto do turismo, levou a uma rápida transformação dos costumes e padrões económicos locais, o que exigiu novas visões de desenvolvimento estratégico e métodos adaptados capazes de orientar esta rápida mudança em curso.
A conservação do Forte de Baltit, com mais de 700 anos, - o monumento emblemático de Gilgit-Baltistão - e a reabilitação do centro histórico da aldeia de Karimabad no Vale de Hunza, foram as primeiras grandes intervenções do Programa Aga Khan para as Cidades Históricas (AKHCP). Os projetos ficaram concluídos em 1996.
Ficou claro, a partir desta experiência, que os trabalhos significativos de restauração tinham de estar associados à reabilitação em curso dos povoados tradicionais, assim como à promoção de técnicas de construção. Os projetos em Hunza e Baltistão incluíram a restauração de vários outros fortes históricos e antigos palácios, assim como outros edifícios de referência culturalmente relevantes. Os fortes em Baltit e Altit em Hunza são museus de história local e centros culturais, enquanto o Forte de Shigar e a Residência do Palácio de Khaplu em Baltistão funcionam ambos como pequenos hotéis, oferecendo autênticas experiências de património aos visitantes e criando emprego e vários outros benefícios para as comunidades locais. A Casa Vazir, com 90 anos, em Swat, está incluída num projeto recente, tendo sido convertida numa pensão de património. Em Altit, o Centro Musical Leif Larsen foi criado para apoiar os músicos locais e documentar as tradições musicais de Hunza e dos vales vizinhos. Esta iniciativa faz parte de um objetivo mais alargado de promover o património imaterial da região - idiomas, folclore, música, artes e ofícios, espetáculos e desportos tradicionais.
As aldeias e bairros à volta dos Fortes, que estavam em risco de ficarem desertificadas em favor de construções modernas dispersas pelos campos, foram - e continuam a ser - reabilitadas através do esforço ativo dos residentes. Estas atividades representam uma nova tendência que não aumenta apenas o orgulho cultural, mas também ajuda a reduzir os custos na construção de estradas e implantação de infraestruturas, poupando os preciosos terrenos agrícolas da construção descontrolada. Preservar os valores indígenas e, ao mesmo tempo, introduzir padrões de vida contemporâneos, incluindo o saneamento, tem sido um ponto fulcral no processo de desenvolvimento cultural em curso. É importante realçar que estes projetos são realizados com o envolvimento ativo das comunidades locais.
Além disso, as empresas sociais estão a ser facilitadas através da consciencialização acerca do uso de práticas tradicionais de construção e na promoção do uso de madeiras verdes, como o álamo, na construção. Como forma de abordar a pobreza rural e incentivar a participação das mulheres nas atividades económicas locais, foi introduzida uma iniciativa-piloto em 2003 para proporcionar às mulheres de famílias carenciadas o acesso a oportunidades de criação de rendimentos, através da participação em projetos de restauração em curso. Desde então, a Ciqam - uma empresa social feminina, evoluiu para se tornar um veículo eficaz para envolver as mulheres em competências não-tradicionais, como levantamentos topográficos e de construção, carpintaria, hospitalidade e turismo.
Os princípios de planeamento estratégico para proteger e aproveitar os ativos ambientais e culturais existentes, à luz do turismo crescente, estão a ser implementados através de um plano abrangente de gestão do turismo. As parcerias com o Governo de Gilgit-Baltistão, assim como com agências de segurança pública, cadeias hoteleiras, câmaras municipais, organizações comunitárias e outras agências da AKDN foram reforçadas para assegurar que os efeitos negativos do turismo são mitigados de forma coletiva e holística.
Estes projetos venceram vários prémios prestigiantes, incluindo os Prémios do Património da UNESCO Ásia-Pacífico para a Conservação do Património Cultural (todos os anos entre 2002 e 2013); um prémio "O Melhor da Ásia" da revista Time; e um prémio "Turismo de Amanhã" da British Airways para a restauração do Forte de Baltit e um Prémio de Turismo Responsável para os fortes de Shigar e Khaplu.
O AKTC completou dezenas de outros projetos de restauração em Gilgit-Baltistão e Chitral, mas a área continua a ser um tesouro de santuários, fortes, mesquitas e outros edifícios de importância cultural e histórica. A maioria ruiu, mas existe ainda a possibilidade de vir a usar a experiência proporcionada por projetos de revitalização anteriores para converter este legado em ativos económicos viáveis que levem à criação de empregos, estabilidade económica e melhor qualidade de vida.
Os projetos de conservação no Vale de Hunza começaram com o Forte de Baltit, com 700 anos, e acabaram por englobar os povoados tradicionais em Karimabad. O Forte de Baltit foi descrito por um visitante em 1979 como “um labirinto de salas escuras, malcheirosas e empoeiradas”, com telhados decadentes cheios de buracos e paredes rachadas que se inclinavam de modo precário para fora das linhas da fundação. No entanto, era, sem dúvida, uma obra-prima de perícia e completamente adaptada ao clima e à função.
O trabalho de restauração do Forte começou em 1992 e ficou concluído em 1996. Desde então, é um museu de história local e um centro cultural. As aldeias e bairros à volta do Forte, que estavam em risco de ficarem desertificadas em favor de novas construções modernas, foram reabilitadas através da participação ativa dos residentes. Na maioria dos casos, as casas tradicionais foram já reocupadas. A chave para este esforço de revitalização bem-sucedida tem sido a introdução de padrões de vida contemporâneos, incluindo sistemas de água canalizada e saneamento. Terrenos aráveis valiosos, outrora destinados à construção, continuam a ser cultivados. Para planear futuras estratégias para o crescimento e desenvolvimento da cidade, foi criada uma Sociedade de Gestão Urbana com o apoio do Fundo.
O esforço de restauração venceu vários prémios, incluindo um Prémio de Excelência da UNESCO Ásia-Pacífico para a Conservação do Património, em 2004, um prémio "Melhor da Ásia" da revista Time, um Globo de Ouro da Pacific Asia Travel Association (PATA) e um prémio "Turismo de Amanhã" da British Airways.
Altit, uma aldeia localizada no sopé do Forte de Altit, com 900 anos, tinha sido parcialmente abandonada pelos seus moradores. Quase um terço das casas foram abandonadas e as novas construções estavam a utilizar valiosos terrenos aráveis. Numa tentativa de abordar este fenómeno e antecipar as consequências socioeconómicas de uma explosão no turismo, os esforços de conservação em Altit prosseguiram numa ordem inversa: a reabilitação da aldeia antes do Forte.
A estratégia de conservação para o Forte de Altit, desenvolvida em 2004, exigia uma preservação “como encontrada”, ou seja, basicamente como uma estrutura vazia, exibindo as sólidas técnicas tradicionais de engenharia que tinham permitido que essas estruturas suportassem terramotos numa zona sísmica bastante ativa. A maior parte dos trabalhos de conservação diz respeito à reparação de falhas estruturais, à estabilização e reparação das paredes existentes, à substituição de alguns telhados, ao tratamento da deterioração da madeira e ao fornecimento de iluminação adequada. .
O Forte de Altit está aberto aos visitantes, enquanto o seu esplêndido jardim ondulante - um pomar saído de um conto de fadas - é um acolhedor refúgio de tranquilidade e natureza. O Café KhaBasi, situado no jardim, reutiliza a residência de inverno de Mir da era colonial e serve pratos tradicionais locais. É cobrado um valor para a entrada no Forte e na aldeia histórica reabilitada, com uma parte destinada à Sociedade de Gestão de Altit, que também cobra taxas pelos serviços de saneamento e água à comunidade, para o funcionamento e manutenção desses serviços.
Após a sua conclusão em 2010, o Forte de Altit foi agraciado com o Prémio de Distinção da UNESCO Ásia-Pacífico em 2011.
A conservação em Ganish centrou-se nos espaços historicamente relevantes como o jataq, (um espaço comum tradicional) usado para reuniões públicas, cerimónias e festivais. Este espaço esteve abandonado durante muito tempo e as quatro mesquitas fantásticas à volta do jataq estavam praticamente a colapsar. O Fundo restaurou as mesquitas e o espaço público usando os métodos desenvolvidos na conservação do Forte de Baltit e Karimabad.
A restauração também abrangeu as torres remanescentes e as portas das fortificações originais. O pharee (lago comunitário) também foi reconstruído e a hospedaria da vila foi restaurada.
Ganish recebeu dois Prémios UNESCO Ásia-Pacífico de Conservação do Património Cultural: um em 2002, pela restauração de quatro mesquitas, e novamente em 2009, pela conservação e reutilização da histórica casa de Ali Gohar.
A restauração do Forte de Shigar e a sua reconversão na “Residência do Forte de Shigar” - agora conhecida como Forte Serena Shigar (SSF) - baseia-se num processo que começou com iniciativas anteriores no Vale de Hunza. No entanto, apesar de se basear nessas iniciativas anteriores, não deixar de ser uma abordagem pioneira que se concentra numa reutilização adaptativa mais ativa.
A Mesquita de Amburiq do século XV foi restaurada para demonstrar a viabilidade da conservação de monumentos gravemente danificados. Amburiq, a primeira mesquita construída no Baltistão, recebeu o Prémio de Mérito UNESCO Ásia-Pacífico pela Conservação do Património Cultural em 2005. O projeto foi elogiado pelo seu "programa de conservação sensível levado a cabo pelos Serviços Culturais Aga Khan do Paquistão. O edifício e o seu pátio voltaram a ter uma utilização moderna enquanto museu comunitário, dando uma nova vida a uma das estruturas histórica e socialmente mais significativas da região".
Construída há quatro séculos, a Mesquita de Khilingrong estava em avançado estado de degradação quando o AKCSP começou a sua restauração. As obras de conservação não só recuperaram a função religiosa do edifício como revitalizou um espaço público importante para iniciativas do dia-a-dia entre a comunidade. Este projeto ganhou o Prémio da UNESCO para Conservação do Património Cultural em 2012.
O impacto da recuperação do Forte de Shigar tem vindo a fomentar uma consciencialização acerca das técnicas de construção tradicionais, o uso sustentável de madeiras verdes como o álamo ou a nogueira, e resgatou artes tradicionais como a carpintaria e a escultura em madeira. Em 2009, o AKCSP ajudou a comunidade a projetar e construir a Escola de Shigar Abruzzi, a primeira estrutura construída especialmente com materiais tradicionais de madeira e pedra, e a primeira escola privada mista no vale. Um projeto semelhante construído pela comunidade foi o novo Jamia Masjid Shigar, também construído num estilo tradicional, em vez da estrutura de betão originalmente proposta.
O Forte de Shigar venceu vários prémios, incluindo o Prémio de Excelência UNESCO Ásia-Pacífico de 2006 na área do Património, e o Prémio de Ouro da Pacific Asia Travel Association (PATA) em 2008, e o Prémio Virgin de "Turismo Responsável de Amanhã" para a Melhor Conservação de Património Cultural.
Em Khaplu, o AKTC levou a cabo a restauração e reutilização do Palácio de Khaplu, construído em 1840, o melhor exemplo sobrevivente de uma residência real no Baltistão. Em 2005, quando o trabalho de restauração começou, o palácio estava num estado de degradação considerável. Em Julho de 2011, o recentemente restaurado Palácio & Residência de Khaplu foi inaugurado pela divisão Tourism Promotion Services (TPS) do Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico (AKFED) como uma residência com 21 quartos, semelhante ao Forte de Shigar, para visitantes exigentes e sofisticados.
O Fundo escolheu a aldeia de Hunduli como o local para uma mostra de melhoramentos de baixo custo, incluindo serviços sociais, em habitações individuais e espaços públicos. Estes melhoramentos foram realizados com mão-de-obra e materiais locais (com assistência técnica adequada). O objetivo era mostrar que as casas antigas poderiam ser readaptadas a novas exigências - preservando assim o património da região - e que os espaços públicos poderiam ser revitalizados de forma económica. O projeto também pretende revitalizar as técnicas tradicionais de carpintaria e construção através da formação prática e criar formas inovadoras de utilizar os materiais tradicionais.
O astana (túmulo histórico) de Syed Mir Muhammad no povoado de Khanqah também recebeu um Prémio de Conservação do Património da UNESCO Ásia-Pacífico pela "notável restauração do mausoléu com 300 anos [...] que devolve a um importante marco arquitetónico e comunitário a sua antiga relevância no povoado de Khaplu nas montanhas do norte do Paquistão. A pátina envelhecida e o caráter histórico do edifício foram cuidadosamente preservados através de técnicas de conservação competentes e sensíveis."
O Palácio de Khaplu recebeu o Prémio de Conservação do Património da UNESCO Ásia-Pacífico em 2013 e um Prémio de Turismo Responsável da Virgin Airways em 2012.
As iniciativas no norte do Paquistão apontam para o desenvolvimento de uma série de projetos interligados na região da Ásia Central, onde se situam Paquistão, Afeganistão, Tajiquistão e China. Para além da reabilitação e conservação de monumentos, esta visão abrange itinerários ao longo de diferentes troços da antiga Rota da Seda que permitirão aos visitantes desfrutar de um ambiente histórico, experimentar a excecional beleza natural da região e aprender acerca das culturas vivas da região.