Está aqui

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  • Na aldeia de Khaftar Khana, em Badakshan, no Afeganistão, a AKF ajudou a comunidade a construir uma microcentral hidroelétrica que fornece eletricidade a 23 residências.
    AKDN / Sandra Calligaro
Fundação Aga Khan
Limpa e Ecológica

O distrito de Surkh-e-Parsa fica na extremidade superior do Vale de Ghorband, não muito longe do local onde a estrada começa a subir as colinas áridas até ao Desfiladeiro de Shibar. No centro do distrito de Lolinj convergem três vales verdejantes. A população local cultiva trigo e trata das suas árvores de fruto, mas sempre foi pobre. Para eles, mesmo antes da guerra, a noção de eletricidade era um sonho distante. A central hidroelétrica estatal mais próxima ficava em Siahgird, muito abaixo no vale, e foi destruída há muitos anos. Para as pessoas destes vales, quando o sol se punha, o dia terminava e eles tinham poucas hipóteses se não prepararem-se para dormir.

Mas nos últimos anos, tudo isso mudou. Cerca de setenta por cento dos agregados familiares nos três vales - que abrigam cerca de 30 000 pessoas - dispõem hoje de eletricidade. Agora existe luz para as crianças estudarem e as pessoas podem continuar as suas vidas após o pôr-do-sol. A eletricidade faz trabalhar moinhos de farinha, carrega telemóveis e alimenta a televisão via satélite, o que traz as notícias do mundo exterior até este canto distante do Afeganistão. Durante o dia, também permite que funcionem máquinas de lavar roupa e outros aparelhos domésticos que poupam trabalho. 

Esta nova energia elétrica produz poucos gases de efeito de estufa. É relativamente barata e a sua produção é sustentável, dependendo de tecnologia simples que pode ser mantida por habitantes locais com alguma formação. A fonte é uma rede de pequenas centrais hidroelétricas e solares instaladas pela Fundação Aga Khan, uma das nove agências internacionais de desenvolvimento que compõem a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN). (No seio da AKDN, a Fundação especializa-se em programas de desenvolvimento rural.)

Noutra parte, na cidade de Sheghnan, numa parte remota de Badakhshan, o colégio local de formação de professores, construído pela AKDN, também é alimentado por energia renovável limpa e barata, neste caso por uma central de energia solar de 15 quilowatts. Sem a existência de uma ligação rodoviária durante todo o ano com o resto de Badakhshan, Sheghnan, no Amu Darya, fica isolada a maior parte do ano. A cidade nunca teve eletricidade por parte do governo. Até a central solar ser instalada em 2007, o colégio usava geradores a diesel, com todos os problemas habituais ao nível de gastos, poluição e escassez de combustível. Hoje, o sol fornece energia para iluminação, computadores e outros propósitos no principal centro de ensino, assim como nos albergues contíguos para homens e mulheres. As baterias armazenam a eletricidade solar durante o dia para garantir que a eletricidade esteja disponível 24 horas por dia.
 
A AKDN tem sido pioneira em unidades de energia hidroelétrica (MPH) e energia solar no Afeganistão desde 2004. Cerca de 250 unidades de MPH foram instaladas ou estão atualmente em construção em cinco províncias do nordeste do Afeganistão: Bamyan, Parwan, Baghlan, Takhar e Badakhshan. No que à energia solar diz respeito, foram instaladas 170 unidades. Estes projetos agora fornecem eletricidade a aldeias que, de outra forma, não teriam acesso a energia.

Estes projetos de energia foram levados a cabo principalmente pelas próprias comunidades locais no âmbito do Programa Nacional de Solidariedade do governo, com o apoio da AKDN. Os Conselhos Locais de Desenvolvimento Comunitário criados pelo NSP recebem um subsídio que podem gastar em projetos de desenvolvimento. A eletricidade é geralmente uma prioridade para os conselhos. Nesse contexto, a AKDN ajuda a comunidade, fornecendo os seus conhecimentos de engenharia, contatos essenciais e apoio organizacional para construir a unidade de energia necessária e formar habitantes locais para poderem mantê-la e organizar a sua preservação.

As microcentrais hidroelétricas variam de pequenos geradores, que produzem cinco quilowatts (kW), a unidades maiores, que produzem até 100 kW. Em média, as unidades da AKDN fornecem um mínimo de 100 watts por família (o suficiente para alimentar cinco lâmpadas de baixo consumo). Uma unidade de 5 kW produz energia suficiente para 50 famílias. 

Os geradores funcionam através de uma única turbina alimentada por água de ribeiros da montanha. Depois de construída a unidade, é criada uma comissão dentro do conselho comunitário que fica responsável pela sua manutenção, cobrando taxas aos consumidores de eletricidade que são usadas para reparações e manutenção. O custo médio mensal é de 100 afeganes por família.

A AKDN também foi pioneira no uso de energia solar no Afeganistão. Em áreas que não dispõem de um abastecimento adequado de água para as unidades de MHP, a AKDN instalou painéis solares para fornecer uma fonte básica de energia a aldeias ou aglomerados de casas. As unidades solares podem variar entre os 20 watts (o suficiente para duas lâmpadas solares) e unidades muito maiores, como as instaladas no colégio de Sheghnan. Uma vez instalados, os painéis podem funcionar durante vinte anos ou mais. As baterias de armazenamento devem ser substituídas após quatro ou cinco anos.

O valor da energia elétrica fornecida por estas fontes de energia limpa e renovável é incalculável. Na verdade, os seus benefícios são normalmente tidos como garantidos por grande parte do mundo. A luz elétrica melhora a alfabetização porque dá às crianças mais tempo para estudar. Também diminui a carga de trabalho das mulheres, aumentando as horas disponíveis para as tarefas domésticas. A energia elétrica pode reduzir a quantidade de lenha e outros combustíveis necessários para aquecimento, iluminação e cozinha. Isto significa que as mulheres e crianças já não precisam de gastar horas a apanhar combustível, sendo também benéfico para o ambiente. A energia renovável reduz o uso de combustíveis poluentes, como o diesel ou a gasolina, e reduz os efeitos nocivos dos fumos da madeira e de outros gases dentro de casa. Para além disso, a eletricidade abre novas oportunidades para outras atividades criadores de receitas, como a tecelagem de tapetes, alfaiataria ou outros pequenos negócios.

A AKDN também está a explorar a aplicação de outras tecnologias e técnicas ecológicas no Afeganistão. Uma delas é a central hidroelétrica de pico - o uso de geradores muito pequenos movidos a água com uma potência de 900 watts, adequados para cerca de dez residências. Foram construídas duas casas-piloto de conservação de energia para testar materiais de construção tradicionais - lama e palha - adaptados para oferecer um melhor isolamento. Está a ser testado o uso do biogás nas circunstâncias do Afeganistão rural, e está em andamento um projeto-piloto de energia eólica. Para além destas tecnologias de produção de energia, será testado o uso de eletrodomésticos energeticamente eficientes - fogões solares, aquecedores solares de água, luzes solares e fogões energeticamente eficientes.

O Afeganistão precisa de energia barata e limpa. Com o consumo a ser ainda relativamente baixo no Afeganistão rural, estas formas renováveis de energia são uma excelente solução e ambientalmente adequadas às necessidades energéticas de muitas famílias rurais carenciadas.