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  • Zimbro com dois troncos cortados perto do lago Kulikalon no Tajiquistão.
    AKDN / Juniper Central Asia
Instituto de Investigação de Sociedades de Montanha da UCA
As florestas de zimbro e a sobrevivência das comunidades de alta montanha

Um terço dos terrenos florestais do Tajiquistão e Quirguistão estão cobertos de zimbros e, em altitudes moderadas e altas nas áreas montanhosas da Ásia Central, as florestas de zimbro representam até 80% de todas os terrenos florestais. Sem a existência de uma base de dados relativa ao crescimento das florestas de zimbro, Gulzar Omurova, investigadora do Instituto de Investigação de Sociedades de Montanha da Universidade da Ásia Central (MSRI-UCA), acredita que é necessário desenvolver um modelo sustentável de crescimento e produtividade para estas florestas.

“Existe uma lacuna de informação na obtenção de conhecimento científico, como o cálculo da produtividade e as taxas absolutas de crescimento de cada árvore”, disse Gulzar. “As árvores podem fornecer uma vasta gama de informações acerca do clima, dos níveis de água nos rios, intensidade de terramotos e se tem havido um aumento ou diminuição de insetos e outras criaturas vivas ao longo do tempo. Uma vez que a natureza se desenvolve em ciclos, este conhecimento ajuda a criar previsões e modelos.

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Gulzar Omurova a analisar os anéis anuais de amostras de árvores de Zeravshan Ocidental.
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AKDN / Juniper Central Asia
Para resolver esta lacuna, o Instituto de Investigação de Sociedades de Montanha da UCA, em conjunto com um grupo de investigadores da Alemanha, Quirguistão e Tajiquistão, lançou o “Projeto Zimbro na Ásia Central” em 2019. O projeto de dois anos tem cinco áreas de foco, incluindo a investigação socioeconómica, a análise dos anéis nos troncos relativos a cada ano, a avaliação das zonas de distribuição e a biomassa das florestas de zimbro através da deteção remota, e a criação de modelos para descrever a dinâmica de desenvolvimento e a degradação destas florestas. 

A investigação de Gulzar concentra-se na dendrocronologia, uma disciplina académica que estuda as árvores e as considera como depositárias vivas e rigorosas de informações históricas. Desde o ano passado, Gulzar recolheu e analisou mais de 20 amostras de zimbros de diferentes áreas da parte ocidental do vale de Zeravshan, no Tajiquistão. As suas amostras abrangem um período de 126 anos, de 1893 a 2019.

Esta investigação irá ajudar a preparar modelos de processos relacionados com a erosão, balanço hídrico e produção de florestas de zimbro, assim como prever possíveis mudanças nestes indicadores, com base em dados sociais e ambientais. Irá também fornecer às agências governamentais e às comunidades locais soluções práticas para a gestão dos recursos florestais. As florestas desempenham um papel importante na proteção e regulação da água, para além de mitigarem desastres naturais, como impedir escoamentos e danos causados por inundações. É cada vez mais importante encontrar uma solução, especialmente para o Tajiquistão, que tem apenas 3% do seu território coberto por florestas.

Ainda que as florestas estejam sujeitas a uma proteção especial, as suas condições estão a deteriorar-se. “Devido ao pastoreio excessivo e à extração ilegal de madeira, as taxas anuais de desflorestação excedem a acumulação natural de biomassa e a capacidade natural de reflorestação. Algumas avaliações sugerem que as florestas de zimbro têm diminuído anualmente cerca de 2-3%”, disse Jyldyz Shigaeva, investigadora sénior da MSRI UCA. “Se a cobertura florestal continuar a diminuir a esta velocidade, irá resultar não apenas numa desertificação irreversível, como também irá levar a um número crescente de desastres naturais, ameaçando as atividades agrícolas e a vida das comunidades locais."

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Florestas de zimbro no Tajiquistão.
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AKDN / UCA / MSRI / Muslim Bandishoev

A equipa do projeto também estudou cinco aldeias no Tajiquistão que se encontram adjacentes a florestas de zimbro. Os inquéritos aos residentes revelaram que embora as comunidades locais prefiram usar árvores de zimbro para as suas necessidades domésticas, na maioria das vezes fazem-no de forma ilegal, com apenas 5% dos residentes a possuírem licenças para cortar árvores doentes. Estes inquéritos também identificaram que a maioria das famílias usa zimbro em vez de carvão para poupar carvão para o inverno (cerca de 30 a 40% do orçamento familiar é gasto em carvão). Os aspetos culturais também desempenham um papel importante, dado que as famílias usam zimbro para assar pão, pois acreditam que o zimbro confere um sabor especial ao pão.

No geral, a análise socioeconómica preliminar descobriu que estas práticas domésticas são insustentáveis para o crescimento da floresta. Este ano, o projeto irá continuar a recolher dados para identificar as práticas mais prejudiciais, encontrar soluções alternativas e ajudar a planear e gerir os recursos florestais de forma sustentável. “Hoje em dia, as florestas de zimbro são tratadas como recursos gratuitos e, se isto continuar, as gerações futuras não irão ver florestas de zimbro nas encostas das montanhas”, disse Jyldyz.

Ao longo dos últimos 30 anos, não houve nenhum trabalho significativo realizado de preparação de registos abrangentes ou de monitorização da biodiversidade, ecossistemas e florestas no Tajiquistão. Consequentemente, os planos de proteção do ambiente e de gestão florestal usam registos desatualizados e estimativas acumuladas.

Neste contexto, os resultados do projeto da UCA tornaram-se particularmente importantes. Os modelos e os resultados da deteção remota e os dados sobre a acumulação da biomassa florestal oferecem ilustrações visuais acerca dos locais e da forma como as florestas de zimbro se regeneram ou diminuem, ajudando assim a determinar as áreas onde deve ser aumentado o controlo ou implementadas medidas preventivas.