O aumento das temperaturas e os fenómenos climáticos extremos desencadeados pelos gases com efeito de estufa têm profundos impactos na saúde humana. Estes incluem o aumento de doenças e mortes resultantes de patologias respiratórias e cardiovasculares, lesões, subnutrição, assim como doenças infeciosas e transmitidas por vetores. A maior parte destes problemas são suportados pelos mais pobres dos pobres, muitas vezes do sexo feminino.
“A injustiça é que os que menos contribuem para as alterações climáticas estão frequentemente entre os mais afetados”, disse o Príncipe Rahim Aga Khan, no seu discurso no seminário inaugural do Instituto para a Saúde e Desenvolvimento Global da Universidade Aga Khan (AKU).
Como se isso não bastasse, o sector dos cuidados de saúde – cujos serviços estão fora do alcance de metade da população mundial, de acordo com o Banco Mundial e a OMS – é responsável por duas gigatoneladas de CO2 por ano, cerca de 4-5% das emissões líquidas globais. Se fosse um país, seria o 5.º maior emissor mundial de gases de efeito estufa, de acordo com um relatório de 2019 publicado pela Health Care Without Harm.
A este ritmo, será que a concretização da cobertura universal de saúde irá tornar as pessoas mais doentes e o ambiente menos resiliente?
Felizmente, os hospitais e laboratórios estão cada vez mais a trabalhar para cuidar do planeta, assim como dos seus pacientes. A implementação da energia solar, o aumento dos programas de reciclagem, a compra de produtos ambientalmente mais seguros – estas são apenas algumas das muitas soluções sustentáveis de energia e resíduos que podem ajudar a descarbonizar os cuidados de saúde e a compensar (não aumentando) a pegada global de carbono.
Os hospitais e centros de saúde da Rede – que servem algumas das comunidades mais pobres e vulneráveis do mundo – estão comprometidos em atingir a neutralidade de carbono nas suas operações até 2030. Estão a promover ações que mantenham a qualidade dos cuidados de saúde, mas que sejam, ao mesmo tempo, boas para o ambiente.
Os Serviços Aga Khan para a Saúde e a AKU têm inclusive demonstrado que os países de baixos e médios rendimentos podem reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa, mobilizando ao mesmo tempo ganhos ao nível da saúde e poupanças de verbas. Segundo as suas conclusões, publicadas pelo British Medical Journal em 2 de Novembro de 2021, “as medidas para mitigar as emissões de carbono podem igualmente proporcionar uma redução de custos (p. ex., eficiência energética), benefícios para a saúde pública no curto prazo (p. ex., redução da poluição do ar) e um acesso atempado a cuidados de saúde (p. ex., telessaúde)”.
“Não pode haver dúvida de que estamos a trabalhar num contexto alarmante, tanto em matéria do impacto das alterações climáticas na saúde humana como do impacto dos sistemas de saúde nas alterações climáticas... as interações entre estes dois merecem estudo e uma cuidadosa consideração política”, disse o Príncipe Rahim Aga Khan. “Queremos garantir que, perante as alterações climáticas, as pessoas não só sobrevivam, como possam prosperar.”