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Especialistas discutem preocupações emergentes num simpósio coorganizado entre a Nova e a AKU em Lisboa
Lisboa, Portugal, 13 de Junho de 2019 - A investigação com células estaminais trouxe novas descobertas que aumentaram a esperança entre os cientistas do aparecimento de curas inovadoras para doenças comuns como as doenças cardíacas ou a diabetes, mas com estas surgiram novas questões éticas e regulatórias, de acordo com especialistas presentes num simpósio coorganizado pela Universidade Nova e pela Universidade Aga Khan (AKU).
As células estaminais podem ser usadas para interromper ou até reverter doenças crónicas através da reparação ou substituição de tecidos ou órgãos. Um bom exemplo é o transplante de medula óssea, que é usado no tratamento de certas doenças sanguíneas e do sistema imunológico. Algumas lesões e doenças nos ossos, pele e olhos podem ser tratadas com enxertos ou a implantação de tecidos.
"Dado que estas células oferecem uma enorme esperança para a redução do sofrimento humano, os investigadores, a indústria e as sociedades multiculturais precisam de estar em sintonia ao nível das políticas e diretrizes regulatórias acordadas que garantam uma atividade ética, transparência e as melhores práticas", disse o professor Arnold Kriegstein, diretor fundador do Centro Eli e Edy Broad de Medicina Regenerativa e Investigação de Células Estaminais da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF).
Ainda que tenha havido um progresso incrível na ciência das células estaminais nos últimos 10 anos, a maioria dos avanços criou desafios éticos, disse o Dr. Azim Surani, diretor para a Investigação de Linhas Germinais e Epigenómica. “Por exemplo, se uma doença monogénica hereditária puder ser tratada, devemos usar a edição do genoma ou não? Estas são questões que a sociedade tem de abordar.”
As novas questões éticas dizem respeito à extensão da cultura de embriões humanos excedentes gerados para fertilização in vitro ou bebés proveta, à geração de gâmetas (células reprodutivas) e embriões artificiais a partir de células estaminais, a criação de quimeras animal-humano e a edição genética do embrião humano.
Existe também uma maré crescente de vítimas - cobaias inocentes de experiências arriscadas ou tratamentos não comprovados ou fraudulentos. O professor Timothy Caulfield, diretor de investigação do Instituto de Direito da Saúde da Universidade de Alberta, chama a isto "scienceploitation" [exploração científica]: "Hoje observamos investigações com células estaminais, genéticas e, cada vez mais, microbiomas a serem exploradas para vender uma série de produtos ridículos", disse.
Apesar de a “exploração científica” ocorrer há anos em países ricos - e estar a aumentar - o mesmo começa agora a acontecer no mundo em desenvolvimento. Ironicamente, os países com altas taxas de pobreza tendem a beneficiar mais do progresso eticamente responsável neste campo, disse o professor El-Nasir Lalani, diretor fundador do Centro para a Medicina Regenerativa e Investigação de Células Estaminais da AKU. "Seria antiético se o acesso igual a novas terapias não fosse possível nos países em desenvolvimento desde o início".
"A humanidade tem de saber lidar com as inúmeras descobertas e as imensas oportunidades que estas apresentam", disse o Professor Lalani. “Nós, enquanto comunidade global, estamos incumbidos de garantir que isto não se torne um comboio descontrolado que deixa para trás as considerações éticas. Parar o comboio por completo também seria antiético, dado que a esperança de curas através da investigação com células estaminais é maior do que nunca.”
O Professor Lalani também falou acerca da criação de uma parceria de recursos em investigação entre a AKU e a UCSF para o desenvolvimento de um programa abrangente e integrado de investigação em biologia de células estaminais e medicina regenerativa. "Uma vez que somos uma universidade virada para a investigação, acreditamos que o investimento na investigação com células estaminais é um passo em frente no sentido de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas", disse Lalani.
Mais no site do evento.
MdE entre a Nova e a AKU:
Por ocasião do simpósio, o Reitor da Universidade Nova, João Sàágua, e o Presidente da Universidade Aga Khan, Firoz Rasul, assinaram um Memorando de Entendimento com vista a facilitar a colaboração em várias áreas, incluindo as ciências da saúde, humanidades e ciências sociais, os média e comunicações. Ambos expressaram o seu compromisso para com a promoção e o fortalecimento da parceria, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das populações vulneráveis, aumentar o conhecimento através de investigação de ponta e promover a cooperação e o entendimento internacional e intercultural.