Está aqui

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  • Uma dai (profissional de saúde) no vale de Chipurson, Paquistão, efetua um exame de rotina a uma mulher grávida de uma aldeia próxima. Nos vales remotos de Gilgit-Baltistão, os Serviços Aga Khan para a Saúde estão assegurar partos mais seguros em áreas onde não existem unidades de saúde disponíveis.
    AKDN / Kamran Beyg
Noor Khatoon: Serviços de saúde materna e neonatal num vale isolado do Paquistão

Em Bagrote, uma aldeia localizada num vale nos confins mais remotos do distrito de Gilgit, no norte do Paquistão, a maioria dos trabalhos agrícolas e tarefas domésticas são realizados por mulheres,sobrando pouco tempo para cuidar das necessidades de saúde de mães e crianças.

Como consequência, a mortalidade materno-infantil, particularmente em locais remotos como Bagrote,é considerada alta-num país que já possui a terceira maior taxa de mortalidade materno-infantil do mundo, de acordo com um estudo de 2018 da UNICEF. A unidade de saúde mais próxima fica a uma hora de distância. A aldeia tem um serviço de ambulatório civil, que está num estado deplorável e com falta de recursos humanos qualificados.

É aqui que entra Noor Khatoon, de 35 anos, que vive em Bagrote e trabalha como Parteira Comunitária nos Serviços Aga Khan para a Saúde no âmbito do projeto AQCESS, financiado pela Global Affairs Canada. Em 2013, Noor foi identificada como uma candidata apropriada pela equipa do projeto de Sobrevivência Materno-Infantil, tendo recebido a formação e o equipamento necessários. Em 2016, já era reconhecida como a “melhor parteira comunitária da região de Gilgit”. Ela diz: “Eu cresci a ver as pessoas da minha aldeia a suportar uma vida cheia de sofrimento. Naturalmente, sinto empatia por elas."

Inicialmente, Noor recebeu formação em vários tópicos relacionados com Saúde Materna e Neonatal (SMN), incluindo planeamento familiar e cuidados maternos e neonatais essenciais. Ficou responsável por transmitir mensagens-chave de SMN à comunidade e identificar, gerir e encaminhar as crianças subnutridas da sua área de influência para os hospitais. Participou ativamente em várias sessões de formação, incluindo um programa de observação de 20 dias no Centro Médico Aga Khan, em Gilgit.

Ela continua a renovar e atualizar as suas competências. O projeto AQCESS tem permitido a Noor realizar várias sessões de formação, como cuidados maternos e neonatais essenciais, saúde reprodutiva, sistemas de informação de gestão, tempo e espaçamento saudáveis de uma gravidez e a abordagem de Desvio Positivo/Lar ao longo de 2017 e 2018. Os serviços de cuidados com o cordão umbilical, amamentação exclusiva e espaçamento de nascimentos fazem parte das matérias abordadas na formação.

Como resultado direto destas sessões de formação, Noor tem por hábito transmitir as mensagens mais importantes de SMN através de sessões de desvio positivo/lar para mulheres grávidas e lactantes. Ela também oferece contracetivos com vista a um espaçamento seguro de nascimentos.

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Como parte do seu trabalho, Noor Khatoon (à esquerda) faz o acompanhamento de mães no vale isolado de Bagrote. É bastante comum as parteiras comunitárias não terem meios financeiros para sustentar o seu trabalho. Ao abordar tantos os recursos financeiros como a formação, o projeto AQCESS disponibiliza acesso a serviços de saúde materno-infantil em áreas remotas.
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AKDN

Noor interveio também como a única assistente de parto especializada em mais de 100 partos desde 2017. Entre estes estiveram partos de alto risco com o consentimento informado dos pacientes e dos seus responsáveis. Devido às altas taxas de pobreza na área e à distância considerável do estabelecimento de saúde mais próximo, ter um parto realizado por Noor é frequentemente a única opção disponível para as mulheres de Bagrote.

Em 2017, Noor Khatoon foi identificada pela equipa do AQCESS como candidata à componente de franchising social. Inicialmente, recebeu formação em planeamento familiar, medicamentos e materiais essenciais, de acordo com as diretrizes e protocolos de SMN. Também foram feitas melhorias na sua sala de partos e foram-lhe disponibilizadas periodicamente sessões de formação de atualização. Graças a estas melhorias, Noor Khatoon começou a oferecer atendimento pré-natal, pós-natal e uma assistência especializada ao parto.

Ao mesmo tempo, Noor recebeu formação em gestão de negócios e empreendedorismo no âmbito da componente de franchising social do AQCESS.Quando começou a trabalhar como Parteira Comunitária, o seu marido, polícia militar, era o único membro da família com rendimentos. Na altura em que este artigo é escrito, Noor já ganhou mais de 60 000 rúpias paquistanesas [cerca de 350 euros] pela cobrança dos seus serviços. Hoje, todos os seus cinco filhos (4 meninas e 1 menino) estão a estudar. Agora é capaz de dar resposta às suas necessidades e às dos seus filhos e pode oferecer apoio financeiro a amigos e familiares que não podem pagar por exames de ultrassons ou consultas especializadas-incluindo assim a independência financeira aos conhecimentos e competências que adquiriu com o projeto.

Uma parteira na comunidade 

Ter uma parteira comunitária disponível e com os meios para permanecer nesta área remota tem sido uma bênção para a região. Um bom exemplo é o de Shahina e do seu marido, moradores no vale de Bagrote. Quando Shahina voltou a engravidar (ela já tem duas meninas e um menino), começou a ser acompanhada por Noor em consultas pré-natais, o que revelou que o seu Índice de Massa Corporal (IMC) estava baixo. O crescimento do bebé também não era encorajador. Quando os hospitais da região rejeitaram Shahina devido à falta de rendimentos, Noor ofereceu a Shahina orientação nutricional e micronutrientes essenciais, incluindo ácido fólico, fevol-vit, óleo de fígado de bacalhau e cálcio ao longo da gravidez.

Na data prevista para o parto, Noor recebeu uma chamada à meia-noite. Noor teve de percorrer uma distância de cerca de 10 quilómetros a pé para ver a cliente. Quando chegou, Shahina estava com intensas dores de parto. Noor deu a medicação, colocou-lhe um cateter intravenoso e pediu ao marido para se começar a preparar para levá-la a um hospital em Gilgit. No entanto, por culpa das restrições financeiras, não foi possível levá-la para o hospital.

Com o tempo a esgotar-se, Noor teve de tomar uma decisão. Ela decidiu começar a preparar-se para o nascimento do bebé de Shahina. Às 4 da manhã, Noor fez o parto de uma menina saudável. No período de acompanhamento, Noor visitou Shahina regularmente e forneceu-lhe os micronutrientes essenciais, dando-lhe informação acerca das melhores práticas de amamentação e a forma mais adequada de ingestão de nutrientes. Noor também prestou aconselhamento acerca do espaçamento adequado de nascimentos e dos seus benefícios para Shahina