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  • Afeera com alunos do Programa de Ensino Preparatório na Academia Aga Khan em Hyderabad. "A ideia de aprender com alguém é que temos de estar vulneráveis e, às vezes, até falhar, e de seguida admitir que falhámos. Quando transformamos esta experiência numa reflexão, tornamo-nos melhores professores."
    AKDN
Afeera Maryam: Ser uma professora melhor

O Programa de Preparação de Professores (TPP) é uma das principais iniciativas de desenvolvimento de professores das Academias Aga Khan. Nesta entrevista com Kamini Menon na Academia Aga Khan de Hyderabad, a participante no TPP Afeera Maryam aborda os aspetos únicos do TPP e a sua experiência no programa.

Conte-nos um pouco acerca do seu contexto.

Faço parte do Programa de Preparação de Professores em Hyderabad. Este é o meu quinto ano de ensino, e anteriormente trabalhei numa escola Teach for India em Deli, com uma turma de 48 raparigas incríveis. Quando a minha bolsa de estudos com a Teach for India terminou, inscrevi-me na Academia, e aqui estou eu.

O que a fez juntar-se à Academia e o que a inspirou a vir para cá?

A minha experiência anterior como bolsista da Teach for India fez-me sentir que queria fazer algo mais do que ser apenas professora. Por isso, procurei uma opção pós-bolsa que partilhasse uma mentalidade e uns valores semelhantes. Quando li acerca das Academias, a visão interessou-me bastante, assim como toda a política de inclusão: dar uma hipótese a qualquer pessoa independentemente da sua origem e garantir que lhe transmitimos uma ideia de excelência em educação. Isto foi algo que me inspirou verdadeiramente, e por isso entrei para a Academia.

Fale-nos acerca do Programa de Preparação de Professores (TPP) e em que ponto está nesse percurso.

O Programa de Preparação de Professores é uma iniciativa das Academias para garantir que temos professores formados internamente que se venham a tornar educadores do currículo IB. Esta é uma ótima iniciativa. Estou no nono mês no programa, e dou aulas na sala de aula, faço investigação e muitas coisas ao mesmo tempo. Estou a ser orientada por especialistas e a melhorar a minha pedagogia todos os dias.

Pode explicar-nos a estrutura do TPP? Como está organizado e o que é que envolve?

O programa é um processo intenso de 18 meses e fazemos as coisas por fases. Na primeira fase, estivemos em sala de aula, com um mentor, a dar aulas durante 20% do tempo. Agora estamos na Fase Dois, e tenho de ensinar durante 50% do meu tempo na sala de aula. Mas não se trata apenas de ensinar. Também temos de fazer um trabalho de investigação ativa, que é crucial para todo o programa. Outra coisa importante são as Sessões de Aprendizagem Baseadas em Problemas, que são uma ótima forma de refletir sobre quem somos como pessoas, e não apenas como professores. Para estas sessões, que acontecem três vezes por semana, levamos todas as nossas descobertas e aquilo que reunimos no âmbito da investigação, e avançamos para o próximo objetivo de aprendizagem. Trabalhamos nisto em grupos e depois refletimos e aplicamo-lo na sala de aula ao mesmo tempo.

Pode partilhar connosco dois aspetos do programa que considere particularmente especiais ou úteis?

Para mim, a parte mais interessante foi a aprendizagem baseada em problemas. É preciso muita paciência para pensar de uma forma mais vasta sobre um problema. São-nos apresentados conjuntos de problemas e nós temos de criar os nossos objetivos de aprendizagem, e todo o grupo faz investigação com vista a objetivos diferentes. Isto torna-nos muito responsáveis e melhora as nossas capacidades de investigação. Ao mesmo tempo, ensina-nos a colaborar com os membros do grupo. Outra parte que considero muito interessante e ao mesmo tempo desafiante é o meu trabalho de investigação ativa. Não é apenas investigação; a parte ativa é a parte mais desafiante, porque temos de refletir sobre a nossa própria prática. Por exemplo, agora estou a trabalhar sobre o questionamento, mas não apenas sobre isso. O tema é "Porquê o questionamento numa sala de aula de IB?" ou "Porquê sequer pensar nessas grandes teorias?" Isso tornou-me mais reflexiva e mais minuciosa no meu trabalho. Ao mesmo tempo, se e quando eu falhar, não há problema em procurar aconselhamento e não há problema em falar com o meu mentor para lhe perguntar porque é que algo não funcionou na sala de aula. Considero que tanto a investigação baseada em problemas como a investigação ativa estão a fazer com que me torne uma melhor professora.

Como é que avalia o modelo de orientação existente no TPP?

A Sandra é a nossa mentora e é uma professora de Ontário com muita experiência. Ela aperfeiçoou o programa, deu-lhe mais estrutura e profundidade. Quando trabalhamos com a Sandra, não nos sentimos intimidados por ela. Trabalhamos com uma especialista com muito conhecimento, mas ao mesmo tempo ela dá-nos a oportunidade de aplicarmos aquilo que sabemos. Ela orienta-me sempre na sala de aula, independentemente do que eu estiver a fazer. Está sempre dar-me a sua opinião acerca da minha pedagogia e do meu trabalho de investigação ativa. Mesmo nas intensas Sessões de Aprendizagem Baseadas em Problemas, que por vezes se tornam algo caóticas, a Sandra está sempre lá para nos empurrar na direção certa para que consigamos chegar a uma conclusão.

Como é que a Afeera e os seus colegas no TPP trabalham juntos e colaboram?

Somos um grupo muito diversificado. Trabalhar com todos eles tornou-me uma melhor professora a vários níveis. Às vezes, não é fácil admitir que não sabemos algo, mas eu aprendo com estas pessoas através da sua experiência, das nossas discussões, e a ajuda que damos uns aos outros é realmente fantástica. Também colaboramos fora da sala de aula - por exemplo, se eu tiver uma dúvida ou deparar-me com algo complicado, peço ajuda a um dos meus colegas. Eles estão sempre lá para mim. Nos esforçamo-nos para refletir, para fazer as perguntas certas, o que nos faz pensar.

Pode falar mais acerca do processo de reflexão que tem no seu grupo de TPP?

Para nós, a reflexão é tornarmo-nos vulneráveis diante de todo o grupo. Não é fácil - não é nada fácil. Nós não refletimos a um nível superficial; temos mesmo de nos aplicar em todo o processo. Quando criamos as nossas reflexões, temos de partilhá-las com todo o grupo - e o grupo sabe e compreende quem nós somos e dá-nos a sua opinião. Eles levam-nos a pensar à luz de certas ideias, e os nossos mentores forçam-nos a pensar acerca da forma como pensamos - torna-se mais uma questão de metacognição. A ideia de aprender com alguém é que temos de estar vulneráveis e, às vezes, até falhar, e de seguida admitir que falhámos. Quando transformamos esta experiência numa reflexão, tornamo-nos melhores professores. E definitivamente melhores pessoas.

Em que sentido é que o TPP fez de si uma melhor pessoa?

Pela forma como o TPP está projetado, nós tornamo-nos praticantes reflexivos - é esse o objetivo! Ensinamos na sala de aula e sabemos que não é apenas um espaço físico, é muito mais do que isso. Não podemos ensinar isoladamente - temos de colaborar com outras pessoas, temos de pedir ajuda. No final, tornamo-nos realmente melhores professores. É um processo rigoroso, é um processo intenso, é um processo muito reflexivo. Mas o objetivo é que, em última instância, nos tornemos o tipo de professor que queremos ser e também um professor competente.

Pode dar-nos um exemplo de como aplicou na sala de aula algo que aprendeu no TPP?

Neste momento, estou a fazer uma investigação ativa, e grande parte é baseada na aprendizagem baseada no questionamento na sala de aula. Estou a dar aulas de 6.º ano e a unidade com que estava a trabalhar tinha como tema "Eles viviam como nós?" É muito sobre civilizações e a forma como as pessoas viviam e interagiam com o seu ambiente. Toda a investigação que fiz durante as Sessões de Aprendizagem Baseada em Problemas e a minha investigação ativa foi aplicada na sala de aula. Criei o plano de aulas e ouvi a opinião dos meus mentores. Depois, tive a hipótese de refletir acerca da minha prática: às vezes, tenho tendência para exagerar um bocado, e consegui ver se o meu plano iria resultar. É assim que nos tornamos melhores professores.

Há mais alguma coisa que gostaria de adicionar acerca do TPP?

Devo dizer que uma pessoa tem de estar muito aberta durante todo o processo. É preciso ter a mente aberta para entrar neste processo. Não é fácil aceitar que vamos passar por 18 meses de formação - podemos ficar intimidados, ou achar que a nossa experiência anterior não importa. Mas não é essa a questão. O objetivo é tornamo-nos melhores professores. Este programa irá funcionar para quem tiver esse objetivo. A forma como este programa está projetado é rigorosa e bonita. O ponto mais importante depende de nós: aquilo que queremos retirar disto. E há muito a retirar, se estivermos realmente abertos a explorar.

Esta entrevista foi publicada originalmente no site das Academias Aga Khan.