Em 1957, o príncipe Karim Aga Khan, um estudante de 20 anos de Harvard, tornou-se Imã (líder espiritual) dos muçulmanos xiitas ismailis quando o seu avô, Sir Sultan Mahomed Shah, faleceu.
O Príncipe Karim passou o seu primeiro ano enquanto Imã a visitar comunidades ismailis em todo o mundo. Nesse mesmo ano, Sua Majestade a Rainha Isabel II conferiu-lhe o título de Sua Alteza. Enquanto jovem Imã, Sua Alteza o Aga Khan testemunhou um período de significativa convulsão e instabilidade políticas que tiveram um impacto direto nas comunidades ismailis e nos seus vizinhos. Os países da África e da Ásia estavam a lutar para se tornarem independentes do domínio colonial ou a ajustarem-se à sua recém-adquirida independência.
Durante este período, Sua Alteza prosseguiu o trabalho do seu falecido avô, consolidando e estabelecendo novas instituições contemporâneas para melhorar a qualidade de vida dos seus seguidores e das sociedades em que estes viviam. Estas instituições viriam a trabalhar em conjunto para alcançar os seus objetivos, mas também se manteriam independentes, enquanto entidades reconhecidas nas suas áreas e entre as comunidades que serviam.
Com o tempo, a sua obra começou a centrar-se em quatro áreas distintas mas ligadas entre si.
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Apoiar o crescimento inclusivo
À medida que o mundo entrava na década de 1960, a Europa danificada pela guerra havia já concluído em grande parte a sua reconstrução e iniciado uma expansão económica generalizada. No entanto, para os países de África e da Ásia, as questões de progresso económico estavam apenas a começar a surgir.
Em 1963, Sua Alteza criou um grupo de empresas sob a designação corporativa de Serviços de Promoção Industrial (IPS). Cada empresa foi criada para providenciar capital de risco, assistência técnica e apoio administrativo com vista ao estímulo e expansão da iniciativa privada na África Subsaariana e na Ásia Meridional.
À época, os investimentos dos IPS concentravam-se no fornecimento de bens e serviços que estivessem em falta nessas regiões, à medida que estas começavam a emergir de um passado colonial e conflituoso. O objetivo passava por melhorar os meios de subsistência através da criação de postos de trabalho e da entrada de investimento.
O agroprocessamento veio a tornar-se um dos principais sectores dos IPS, incluindo empresas que fornecem produtos para os mercados locais e de exportação, e desempenhando um papel significativo no apoio à economia rural.
A Frigoken, por exemplo, o maior exportador de feijão-verde processado do Quénia, procurou proporcionar um futuro melhor aos pequenos agricultores do país. Hoje em dia, a empresa emprega mais de 3000 pessoas, a maioria mulheres, e apoia mais de 70 000 pequenos agricultores. A empresa também implementa um programa abrangente de bem-estar no local de trabalho e disponibiliza uma creche para as famílias jovens.
Para além do agroprocessamento, os IPS também trabalham com governos, instituições financeiras e doadores no desenvolvimento de soluções em grande escala para necessidades urgentes ao nível das infraestruturas, incluindo a criação de energia e as telecomunicações.
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“A reabilitação de economias que emergem de conflitos civis ou tumultos internos tem sido um desafio que temos levado a cabo em ambientes tão variados como o Afeganistão, Bangladesh, Moçambique, Tajiquistão e Uganda”, disse Sua Alteza o Aga Khan no Quénia em 2003. “Não são os lucros comerciais a curto prazo que importam, mas sim os investimentos a longo prazo em áreas com um vasto impacto humano e social.”
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Há mais de 60 anos que as várias instituições criadas por Sua Alteza vêm também oferecendo serviços de microfinanciamento através de programas integrados de desenvolvimento e instituições de microfinanciamento autónomas. Desde a década de 1950 que organizam grupos de poupança e empréstimos imobiliários renováveis.
Estes programas ajudaram a criar empresas e postos de trabalho, a construir e a melhorar habitações, a comprar sementes e gado, a suavizar o impacto dos custos de saúde imprevistos e a tornar o ensino superior possível. Muitos destes programas foram acolhidos e geridos pela Agência Aga Khan para o Microfinanciamento (AKAM).
A missão da AKAM passa por criar uma melhoria quantificável e duradoura nas vidas dos seus clientes através da prestação de serviços financeiros relevantes capazes de reduzir a sua vulnerabilidade e facilitar a inclusão financeira, económica e social.
Os serviços de depósitos oferecem aos mais carenciados um lugar seguro e conveniente para colocarem as suas poupanças. Os serviços de crédito, poupança, transferências e remessas permitem aos microempreendedores e pequenos agricultores investirem nos seus negócios e explorações agrícolas e terem um maior controlo sobre os seus meios de subsistência. Os serviços que contribuem para a criação de emprego e as pequenas e médias empresas ajudam a formar uma base sólida para uma economia nacional estável.
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Ajudar as pessoas a prosperar
Em meados da década de 1960, o processo de transição do colonialismo para a independência em África começou a ganhar ritmo, na mesma altura em que as sociedades rurais do sul da Ásia sofriam com a seca e a fome.
Em 1967, Sua Alteza criou a Fundação Aga Khan (AKF), a primeira agência daquilo que se viria a tornar a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN). Este foi um passo significativo para a potenciação das sinergias entre as várias atividades de desenvolvimento do Imamat Ismaili, todas abrangidas por uma única estrutura institucional.
Os governos dos países em desenvolvimento estavam mal equipados para prepararem as suas sociedades marginalizadas para um progresso sustentado. Como tal, os primeiros esforços da AKF centraram-se na prestação de serviços nas áreas da saúde, nutrição e segurança alimentar, seguidos em pouco tempo por apoio nas áreas da educação e desenvolvimento na primeira infância.
Fortalecer a sociedade civil
A visão de Sua Alteza para a Fundação “valoriza o desenvolvimento voltado para a comunidade e uma programação de longo prazo – e não projetos de curto prazo”, disse Michael Kocher, Diretor-Geral da AKF.
Ao longo de décadas, os seus programas têm incorporado a democracia de base como um trampolim para uma melhoria significativa das condições de vida das populações de cadeias montanhosas remotas, regiões costeiras e outras áreas rurais carenciadas.
O desenvolvimento cuidadoso das organizações de aldeia lideradas pelos cidadãos tem estado no centro desta transformação. Os seus processos inclusivos permitem às comunidades diversas procurar e possuir soluções conjuntas para problemas comuns. Hoje em dia, estas organizações ajudam mais de oito milhões de pessoas a obter uma maior segurança alimentar, rendimentos familiares mais elevados e melhores oportunidades.
Estes grupos de aldeia são hoje conhecidos como organizações da sociedade civil – que não se definem como comerciais nem governamentais, e que aproveitam a energia dos cidadãos privados para o bem público. Hoje em dia, a sua capacidade de estimular o progresso é reconhecida, mas nas décadas de 1970 e 1980, o conceito era novo.
“Sua Alteza ocupa um espaço muito significativo enquanto líder global”, disse Kocher, referindo-se à sua visão e perspetiva inicial. “Ele há muitos anos já falava de sociedade civil, numa altura em que poucos o faziam.”
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Estimular mentes curiosas
Na década de 1980, Sua Alteza deu início a uma iniciativa plurianual para a criação do que se viria a tornar a Universidade Aga Khan (AKU). Foi fundada em 1983 como a primeira universidade privada do Paquistão, assumindo inicialmente a forma de uma escola de enfermagem. Expandiu-se ao longo dos anos e hoje inclui seis polos em três continentes, promovendo a aprendizagem de uma grande variedade de disciplinas.
Mais recentemente, a universidade iniciou programas de formação de professores, estudo de civilizações muçulmanas, jornalismo, desenvolvimento na primeira infância e políticas públicas. Mais de 16 000 ex-alunos da AKU, incluindo médicos, enfermeiros, professores e gestores escolares – dois terços dos quais são mulheres – constituem uma comunidade global de líderes que estão a elevar os padrões nas suas respetivas áreas. Da mesma forma, os investigadores estão a gerar novos conhecimentos – e a estabelecer padrões de referência – para resolver problemas que afetam milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento.
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Melinda French Gates, copresidente da Fundação Gates, considera a AKU uma instituição fundamental, afirmando na cerimónia de entrega de diplomas do ano passado que a “Universidade Aga Khan não é apenas um recurso global - é uma força transformadora para a saúde pública e da mulher”.
“Sua Alteza tem sido o inspirador fundador de universidades e faculdades – porque a educação é algo que ele reconhece como um dos pilares da democracia”, disse Adrienne Clarkson, ex-governadora-geral do Canadá, em 2016. “Ele está constantemente a salientar que deve haver uma resolução científica dos problemas com uma contínua abertura a novas questões.”
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Esta ênfase na resolução dos problemas e na abertura a novas questões também tem sido a base da abordagem de Sua Alteza à educação para os alunos mais jovens – nos infantários e no ensino primário e secundário.
As primeiras escolas Aga Khan foram criadas há mais de 100 anos na Índia e na África Oriental por Sir Sultan Mahomed Shah. A estas seguiram-se as Escolas Femininas de Jubileu de Diamante no norte do Paquistão na década de 1940. Sua Alteza herdou a responsabilidade por esta crescente rede de escolas e, com ela, uma grande preocupação pela promoção da educação, particularmente no mundo em desenvolvimento.
Nos anos seguintes, foram criadas novas escolas em áreas carenciadas. O seu objetivo passava por educar em vez de impor.
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“Educar para a liderança deve implicar algo mais do que um mero desenvolvimento de competências mecânicas”, disse Sua Alteza em Atlanta, em 2008. “E a formação que desenvolve competências, por muito importantes que sejam, é diferente da educação na arte e ciência do pensamento.”
A arte e ciência do pensamento são o foco central da instituição hoje conhecida como Escolas Aga Khan (AKS). Os seus centros de aprendizagem equipam os jovens estudantes, das crianças aos adolescentes, com os conhecimentos, competências, atitudes e valores para que estes tenham sucesso num mundo complexo e dinâmico. Nas Escolas Aga Khan, os alunos aprendem a fazer escolhas éticas, a abraçar o pluralismo e a servir as suas comunidades.
Para além de gerir mais de 200 escolas em 13 países, as AKS também se orgulha do seu modelo inovador das Academias Aga Khan (AKA).
Em 2000, Sua Alteza implementou uma rede integrada de escolas de excelência dedicada a expandir o acesso à educação de acordo com os padrões internacionais. A primeira Academia Aga Khan foi inaugurada em Mombaça, no Quénia, em Agosto de 2003. A segunda, em Hyderabad, na Índia, começou a operar em 2011, e a terceira foi inaugurada em Maputo, em Moçambique, em 2013.
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Com base no modelo da International Baccalaureate (IB), o currículo das Academias incorpora temas concebidos para dar aos alunos de exceção as competências para liderar nas suas áreas, a nível global e local, através da promoção da consciencialização internacional, responsabilidade social, criatividade e altos padrões éticos. A entrada na Academia é baseada apenas no mérito, independentemente da origem socioeconómica ou da capacidade da família em pagar as propinas.
Ao mesmo tempo que estimulam estes talentosos alunos a tornarem-se líderes de qualidade de nível global, as Academias trabalham igualmente no fortalecimento dos sistemas nacionais de educação através do desenvolvimento profissional contínuo dos professores.
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Melhorar a saúde pública
O desenvolvimento rural e a educação são fatores vitais para a questão do desenvolvimento, mas a saúde também. Por esta razão, Sua Alteza dedicou um esforço considerável à criação de vários hospitais e centros de saúde no âmbito do que viria a ser os Serviços Aga Khan para a Saúde (AKHS).
“A experiência mostrou-nos que qualquer noção de mitigação deve começar com uma análise profunda das múltiplas causas que exigem respostas”, escreveu Sua Alteza em 2011. “Também aprendemos que as microrrespostas são muitas vezes frágeis e de curta duração; deste modo, as respostas devem conseguir uma certa escala para terem longevidade.”
Tal como acontece em boa parte das suas intervenções, a AKDN adota uma abordagem abrangente e de longo alcance em matéria de saúde para dar resposta a questões crónicas de saúde em comunidades carenciadas. Presta serviços de forma direta através dos AKHS, um dos maiores sistemas de saúde privados sem fins lucrativos do mundo em desenvolvimento. O sistema tem muitas décadas de experiência e já formou milhares de enfermeiros, parteiras e médicos. Gere igualmente projetos de saúde comunitária, muitas vezes em conjunto com outros programas de desenvolvimento, em algumas das áreas mais pobres e remotas do mundo.
O primeiro projeto deste tipo, o Hospital Aga Khan para Mulheres e Crianças de Kharadar, foi criado em 1924 como uma maternidade com o apoio de Sir Sultan Mahomed Shah, que viria a implementar mais centros de saúde ao longo das próximas duas décadas. Tal como acontece com as escolas, o atual Aga Khan herdou estas instalações juntamente com um grande apreço pelo papel essencial da saúde nos países em desenvolvimento.
O Dr. Gijs Walraven, Diretor de Saúde da AKDN, descreveu uma visita que Sua Alteza fez ao Paquistão no início da década de 1980 para avaliar o progresso dos projetos de saúde naquele país. Aquilo que sobressaiu foi o seu profundo interesse e a atenção aos detalhes:
“Sua Alteza já naquela época percebeu a importância de uma continuidade nos cuidados de saúde”, disse o Dr. Walraven, “O modelo de rede radial, a importância da educação e da investigação, e a disponibilização deste sistema de saúde integral com base em princípios muito positivos e em todo o lado.”
O centro em Kharadar possui atualmente um bem equipado hospital com 48 camas, com um bloco de partos, bloco operatório, laboratório, ala de internamento, berçário e farmácia. O hospital inclui ainda uma escola de obstetrícia e oferece alojamento às parteiras estagiárias. Esta expansão é apenas um dos exemplos do crescimento pelo qual os AKHS têm passado ao longo dos últimos 65 anos.
Hoje em dia, os AKHS prestam cuidados médicos primários e cuidados médicos curativos no Afeganistão, Índia, Quénia, Paquistão e Tanzânia, através de mais de 230 centros de saúde, dispensários, hospitais, centros de diagnóstico e centros de saúde comunitários, chegando a um milhão de beneficiários e recebendo a visita de 1,2 milhões de doentes por ano. Oferecem também assistência técnica aos governos na prestação de serviços de saúde no Quénia, Síria e Tajiquistão. O objetivo passa por complementar os sistemas de saúde dos governos e não competir com eles.
Os Hospitais Aga Khan são conhecidos na África Oriental e em partes da Ásia Meridional pelo seu elevado nível de práticas éticas, inovação e prestação de cuidados de qualidade, seguros e baseados em evidências.
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“Estamos a adaptar e a evoluir o nosso sistema de saúde para melhor servir as nossas populações”, disse o Dr. Walraven. “Os chamados países desenvolvidos e com altos rendimentos poderiam aprender com muitas das coisas que estamos a fazer nos contextos em que trabalhamos.”
Embora nos últimos dois anos tenha sido dedicada muita atenção às doenças transmissíveis durante a pandemia da COVID-19, a abordagem dos AKHS continuou a evoluir de acordo com a natureza mutável da doença, estando a ser planeadas e construídas novas instalações, como o centro de cuidados oncológicos de última geração no Hospital Aga Khan de Dar es Salaam, com estas mudanças em mente.
“Com as mudanças na demografia e nos estilos de vida, vemos outras doenças a surgir”, disse o Dr. Walraven. “E prestamos muita atenção ao tratamento da hipertensão, diabetes e problemas de saúde mental.”
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Construir comunidades resilientes
No início da década de 1990, logo após o colapso da União Soviética, rebentou a guerra civil no Tajiquistão. O conflito causou uma grave escassez de alimentos e energia na região geograficamente isolada de Badakhshan, nas montanhas Pamir. No inverno de 1992, surgiu uma grave crise humanitária, colocando em risco inúmeras vidas e meios de subsistência.
Em resposta a um pedido do Governo do Tajiquistão, Sua Alteza o Aga Khan lançou uma iniciativa de apoio de emergência, que resultou num processo de mudança positiva para a nova nação emergente.
Em meados da década de 1990, a resposta a situações de crise tornou-se uma área especializada de atividade no seio da AKDN. Implementada pela Focus Humanitarian Assistance (FOCUS), a atuação responde a desastres naturais e de origem humana, com um objetivo de longo prazo de reduzir a dependência da ajuda humanitária e ajudar as comunidades na transição para o desenvolvimento sustentável, autossuficiente e de longo prazo.
Ao mesmo tempo, os Serviços Aga Khan de Planeamento e Construção, fundados por Sua Alteza em 1980, trabalhavam para melhorar o ambiente construído através do design e construção de habitações, ordenamento de aldeias, água e saneamento, e muito mais, em muitas das mesmas regiões onde a FOCUS estava a operar.
Em 2016, as duas instituições seriam integradas numa nova entidade, intitulada Agência Aga Khan para o Habitat (AKAH), que combinaria os projetos em curso, reconhecendo o papel cada vez mais influente das alterações climáticas no ambiente construído e no risco de catástrofes.
Estudos recentes revelaram que o clima está a mudar mais rapidamente nas zonas montanhosas do que em outros lugares, e aqueles que lá vivem estão especialmente vulneráveis a terramotos, avalanches, cheias e deslizamentos de terras. São estas as áreas em que a AKAH concentra as suas intervenções.
“Sua Alteza observou, mais cedo do que a maioria de nós, que os riscos estavam a agravar-se,” disse Onno Ruhl, Diretor-Geral da AKAH, acerca das comunidades que vivem no chamado telhado do mundo. “Ele percebeu que para melhorar a qualidade de vida nas comunidades rurais e de montanha é preciso ser mais ambicioso ao nível da gestão de riscos e na preparação, para que as pessoas sobrevivam e prosperem, apesar das situações de risco.”
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Isto exigiu uma sinergia entre as agências operacionais, as unidades do país e uma agência principal com capacidade intelectual, acrescentou Ruhl. “Foi por isso que Sua Alteza criou a AKAH, e é essa a nossa missão.”
Hoje em dia, a AKAH está a ajudar as comunidades tanto de centros urbanos populosos como de aldeias remotas de montanha a combater as alterações climáticas, repensando a forma como os edifícios são projetados, construídos e operados – colocando os princípios de construção ecológica no centro do desenvolvimento.
De um modo mais geral, estes princípios estão a encabeçar os esforços da AKDN de tornar o ambiente construído mais ecológico em todas as suas instituições e programas e atingir a neutralidade carbónica até 2030.
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Para prosperarem de forma plena, as comunidades devem sentir um sentimento de pertença, mas também têm de estar ligadas aos seus vizinhos e ao mundo em geral.
A Universidade da Ásia Central (UCA) foi fundada em 2000 como uma universidade privada secular e sem fins lucrativos, através de um Tratado Internacional assinado por Sua Alteza, e pelos Presidentes do Tajiquistão, Quirguistão e Cazaquistão. A universidade está também registada oficialmente nas Nações Unidas.
A sua missão passa por promover o desenvolvimento social e económico da Ásia Central, particularmente das suas comunidades de montanha, oferecendo um padrão internacionalmente reconhecido de ensino superior. Visa ainda ligar as comunidades rurais isoladas à comunidade global e construir o capital humano necessário para uma economia moderna e uma administração estável.
A UCA criou três polos longe dos principais centros urbanos que atraem dois terços dos seus estudantes de cidades secundárias, pequenas aldeias e zonas rurais – divididos uniformemente entre homens e mulheres. O primeiro polo residencial foi construído em Naryn, no Quirguistão, em 2016; o segundo em Khorog, em 2017; o terceiro está previsto abrir no Cazaquistão nos próximos anos.
Os alunos da UCA recebem uma educação abrangente em artes liberais que abre as suas mentes às humanidades, artes e ciências antes de se especializarem na disciplina que escolherem.
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“Isto sucedeu porque as sociedades estavam abertas a novas ideias, abertas à mudança, abertas a intelectuais e pessoas de várias origens”, acrescentou. “Este tipo de abertura pode novamente desbloquear as portas para o futuro e permitir-nos enfrentar as grandes questões do nosso tempo e espaço.”
Após anos de investimento em investigação e ensino transfronteiriço, a UCA está agora bem posicionada para abrir estas portas e dar resposta a estas grandes questões.
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Honrar o património cultural
Na década de 1970, numa altura em que o boom económico do pós-guerra no Ocidente estava a chegar ao fim, Sua Alteza o Aga Khan começou a pensar no estado da arquitetura no mundo muçulmano. O rápido desenvolvimento fez com que as cópias baratas de designs de edifícios estrangeiros se tornassem predominantes no mundo muçulmano, ao mesmo tempo que se assistia a uma crescente perda da tradição arquitetónica islâmica.
Em 1977, numa altura em que existiam poucos prémios internacionais de arquitetura, Sua Alteza avançou para a criação do Prémio Aga Khan para a Arquitetura, como resposta às questões suscitadas por esta situação. Sua Alteza sempre foi adepto do sector e da prática da arquitetura, tendo inclusive comentado que a arquitetura é a única forma de arte que tem um impacto direto e quotidiano na qualidade da vida humana.
O Prémio é concedido a cada três anos a projetos que estabeleçam novos padrões de excelência em arquitetura, práticas de ordenamento, preservação histórica e arquitetura paisagística. O Prémio procura identificar e encorajar conceitos de construção que consigam fazer face às necessidades e aspirações de sociedades pelo mundo onde exista uma presença significativa de muçulmanos.
Ao longo dos últimos 45 anos, foi reunida documentação de mais de 7500 projetos de construção localizados em todo o mundo, dos quais mais de uma centena foi premiada. Hoje é considerado como um dos mais prestigiados prémios de arquitetura em vigência.
Desde a criação do Prémio, Sua Alteza alargou o âmbito do trabalho do Imamat na cultura para se focar igualmente na revitalização física, social e económica das comunidades no mundo em desenvolvimento. Esta iniciativa foi colocada sob a alçada do Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC).
“Quando olho para o que Sua Alteza tem feito e para a trajetória do seu pensamento, vejo que tem vindo a proceder de forma incremental”, disse Luis Monreal, Diretor-Geral do AKTC.
“Em virtude das atividades do Prémio, Sua Alteza identificou igualmente a necessidade de lidar com mais do que apenas edifícios individuais, abordando o tecido urbano – o território onde a maior parte da humanidade vive atualmente.”
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O Programa Aga Khan das Cidades Históricas, por exemplo, mostrou como a criação de parques e jardins, a conservação de edifícios emblemáticos, a melhoria do tecido urbano e a revitalização do património cultural - em muitos casos, os únicos ativos à disposição da comunidade - podem constituir um trampolim para o desenvolvimento social.
Ao longo da década de 1990 e de lá para cá, o AKTC tem vindo a fazer a ponte entre obras de património cultural e o desenvolvimento social e económico em cidades como o Cairo, Cabul, Hyderabad, Deli e Djenné. Estes projetos têm demonstrado que um investimento na reabilitação de ativos culturais e espaços públicos, em combinação com a introdução de programas de microfinanciamento e serviços de saúde, tem um impacto direto não só na melhoria da qualidade de vida das pessoas, como também na sua capacidade de gerar rendimentos.
Mais recentemente, Sua Alteza criou o Museu Aga Khan, em Toronto, no Canadá, que alberga mais de 1000 obras-primas representativas da arte de civilizações muçulmanas da Península Ibérica à China. A sua coleção dinâmica de manuscritos, instrumentos científicos, quadros, cerâmica e obras em metal – aberta ao público pela primeira vez em 2014 – continua a evoluir através de novas aquisições.
Para além da coleção, o Museu leva também a cabo programas educacionais que procuram clarificar as ligações entre épocas e culturas. A promoção do valor da cultura junto dos diversos públicos também tem o benefício adicional de estimular o pluralismo – a aceitação da diferença que pode ajudar as sociedades a lidar com questões de injustiça, desigualdade e exclusão.
“A experiência diz-nos que as pessoas não nascem com a capacidade inata nem com o desejo de ver o Outro como um seu semelhante na sociedade”, disse Sua Alteza em 2008. “O pluralismo é um valor que tem de ser ensinado.”
E por isso, é ensinado. E celebrado. E premiado.
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A Iniciativa Aga Khan para a Música, criada em 2000, procurou ajudar a revitalizar uma parte do património global que estava a desaparecer rapidamente – as tradições musicais vivas de diversas sociedades em todo o mundo com uma presença significativa de muçulmanos. O trabalho da Iniciativa na promoção da educação e mentoria, criação e performance, produção e divulgação na área da música deu origem ao Programa Aga Khan para a Música, incorporando um mecanismo de reconhecimento da excelência e da criatividade – os Prémios Aga Khan para a Música, estabelecidos por Sua Alteza em 2018.
“As forças tecnológicas que estão a remodelar o nosso mundo fazem com que os vizinhos que vivem do outro lado do planeta estejam agora tão perto de nós quanto os vizinhos que vivem do outro lado da rua”, disse Sua Alteza na cerimónia inaugural de entrega de prémios em 2019. “Num mundo assim, a paz e o progresso exigem que promovamos uma agenda pluralista e que invistamos numa ética Cosmopolita. Estes Prémios para a Música pretendem ser um investimento no sentido dessa promoção.”
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Um líder visionário
Sob a liderança de Sua Alteza, a AKDN tem vindo a crescer e a evoluir ao longo das décadas. As suas agências já venceram muitos prémios, e o seu trabalho inicial no desenvolvimento rural vem funcionando há décadas como um modelo seguido por outras organizações.
Uma das suas imagens de marca é a abordagem de longo prazo, muitas vezes multigeracional, às iniciativas. Outra é o contínuo conjunto de valores éticos que sustentam o seu trabalho. Uma terceira é o seu foco na qualidade.
“Sua Alteza nunca irá renunciar à importância da qualidade naquilo que fazemos, independentemente do contexto”, disse o Sr. Kocher, Diretor-Geral da AKF. “Uma das coisas que Sua Alteza disse durante o nosso primeiro encontro e que já o ouvi repetir é ‘Fazemos o que podemos, mas fazemos o melhor que podemos.’”
Isto ajuda a assegurar que a AKDN lança as bases para o progresso das gerações vindouras, melhorando a qualidade de vida das pessoas, ao mesmo tempo que leva em consideração a igualdade de género, promove o pluralismo e age em harmonia com o ambiente natural.
Ao longo dos últimos 65 anos, Sua Alteza o Aga Khan já foi agraciado com mais de 70 distinções, prémios e graus honoríficos internacionais da parte de vários governos, universidades e organizações da sociedade civil, o que mostra que o seu trabalho, através da AKDN e não só, tem sido e continua a ser valorizado por muita gente.
“Tenho 63 anos – já fiz muitas coisas”, conclui o Sr. Kocher. “Mas todas as manhãs levanto-me com energia, inspirado e a sentir-me profundamente privilegiado por trabalhar aqui, e dar a minha modesta contribuição para dar vida à visão de Sua Alteza.”