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  • Sua Alteza o Aga Khan a discursar durante a cerimónia do Prémio Aga Khan para a Arquitetura 2016
    AKDN / Mairaj Manji
Cerimónia do Prémio Aga Khan para a Arquitetura 2016

Bismillah-ir-Rahman-ir-Rahim
 

Sua Alteza Xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, 

Vice-Presidente e Primeiro-Ministro dos Emirados Árabes Unidos, e soberano do Dubai, 

Suas Altezas, 

Suas Excelências, 

Distintos convidados,

As-salaam-o-aleikum

É um verdadeiro prazer dar-vos as boas-vindas à cerimónia do Prémio Aga Khan para a Arquitetura 2016.

Como devem calcular, tenho o privilégio de assistir a muitas cerimónias maravilhosas no exercício das minhas responsabilidades. Mas esta Cerimónia dos Prémios de Arquitetura é uma das que aguardo com especial expetativa. 

Talvez seja, em parte, porque acontece apenas de três em três anos - existe mais tempo para a expetativa ir crescendo! Mas existe uma razão muito mais importante: a Arquitetura é a única forma de arte que tem um impacto direto e quotidiano na qualidade de vida dos seres humanos. 

Este ano, o prémio volta a destacar seis obras-primas da arquitetura - que chamam a atenção para si não apenas dentro da comunidade profissional, mas também junto do público geral. Ao fazermos isto, acreditamos que o Prémio pode ajudar a instruir e inspirar aqueles que virão a moldar o futuro da Arquitetura Global. O Prémio procura guiar e inspirar a criação de melhores construções no futuro.

Ao mesmo tempo, é claro, a Cerimónia de Prémios oferece uma boa oportunidade para olharmos para trás. O objetivo do Prémio, quando foi originalmente lançado, passava por ajudar a renovar um dos grandes legados culturais do mundo, as ricas tradições da arquitetura islâmica. Receávamos a perda destas tradições no meio de uma onda de entusiasmo pelo moderno e ocidental - privando as pessoas dos conhecimentos, das intuições e dos idiomas de algumas das culturas mais ricas da história mundial.  

Existia um genuíno sentido de urgência acerca da tentativa de recuperar esse precioso património. 

Não podia ser mais apropriado estarmos hoje aqui reunidos neste Forte, ele próprio um belo exemplo de uma cuidadosa preservação histórica. 

Ao estarmos reunidos neste extraordinário lugar - e com este objetivo especial - desejamos recordar às pessoas de todo o mundo e de todas as origens uma lição poderosa: A forma como uma preocupação ponderada pelo ambiente construído pode caracterizar uma civilização inteira. 

Quando falo de uma preocupação ponderada pelo ambiente construído, penso nas várias qualidades que o Prémio procura honrar e promover. Deixem-me mencionar apenas quatro delas.

Em primeiro lugar, penso na forma como a grande arquitetura pode integrar o passado e o futuro - a tradição herdada e as necessidades variáveis. Não temos de escolher entre olhar para trás e olhar para a frente; estas não são escolhas concorrentes, mas sim complementos salutares. Podemos aprender lições valiosas da História sem nos perdermos na História; podemos olhar corajosamente para a frente sem ignorar aquilo que já aconteceu.

Em segundo lugar, penso no modo como a excelência arquitetónica pode integrar os Dons da Natureza e o potencial da Mente Humana. As Dádivas Naturais e a Criatividade Humana são dons Divinos - e é errado abraçar em detrimento do outro. A melhor arquitetura ensina a nos evolvermos com a natureza de forma respeitosa; sem conquistá-la ou subjugá-la, e sem nos isolarmos dela. O nosso país anfitrião, os Emirados Árabes Unidos, oferece exemplos impressionantes de integração dos ambientes naturais e humanos.  

Uma terceira qualidade que observamos nos projetos que distinguimos esta noite é o equilíbrio entre inspiração estética e utilidade prática. Ao longo da história, os desafios da mudança foram sempre fundamentais para a missão arquitetónica. Mas hoje, o ritmo de mudança está tão acelerado que parece por vezes insuportável. 

As mudanças tecnológicas revolucionaram as nossas vidas na comunicação e nas viagens, na indústria e na agricultura, na medicina e na educação. As mudanças naturais - incluindo o Aquecimento Global - também apresentam desafios centrais. Num mundo globalizado, as ameaças perigosas podem circular de forma mais abrangente e rápida: armas e poluição, drogas e crime, doenças e terrorismo, pobreza e violência. Um dos resultados desses fatores foi um aumento sem precedentes na migração de pessoas deslocadas. 

Alguns destes problemas desafiam diretamente o mundo da arquitetura. Numa altura em que os velhos laços de comunidade parecem desgastar-se, o sentido de disciplina e responsabilidade pessoal também pode ficar diluído. Nestes contextos, ouvimos mais sobre incompetência profissional, deterioração dos padrões de engenharia e construção, e inclusive práticas desonestas de contratação. 

Todas estas realidades - tecnológica, económica, social e ética - apresentam importantes desafios para a arquitetura responsável. Os projetos que homenageamos esta noite abordaram estes desafios, cada um deles interagindo com as exigências particulares do seu próprio tempo e lugar, expressando os importantes valores da continuidade cultural. 

O quarto valor fundamental que o Prémio de Arquitetura procura destacar é o Espírito do Pluralismo - uma abordagem à vida que acolhe a diferença e a diversidade - que abraça a própria diversidade como um Dom do Criador, honrando as diferenças culturais enquanto legados valiosos dos nossos antepassados. 

O espírito do pluralismo tem sido fundamental para as grandes conquistas das culturas islâmicas do passado, e continua a ser um princípio central para estes Prémios. 

Uma das questões que abordámos há quatro décadas foi a forma como o processo de seleção do Prémio poderia refletir da melhor forma o pluralismo dos povos e dos seus habitats. 

Uma das respostas foi a criação de um ciclo de seleção de três anos - um calendário que incentivasse uma ampla discussão entre um leque diversificado de participantes. Ao longo dos anos, participaram arquitetos, filósofos, artistas e historiadores de diversas religiões, culturas e lugares - pessoas de diferentes gerações e géneros. Tenho o prazer de sublinhar que três dos arquitetos premiados este ano são mulheres. Valemo-nos dos nossos amigos de governos e fundações, urbanistas e líderes de aldeias, educadores e investigadores, engenheiros e financiadores, e pequenos e grandes construtores. 

A todos os que contribuíram com o seu tempo e talento para o processo de premiação nos últimos três anos - e ao longo de todos estes anos - oferecemos a nossa mais profunda gratidão.   

O Espírito do Prémio sempre foi inclusivo, valorizando todos os tipos de edifícios e espaços, de arranha-céus a casebres de barro, de residências a espaços de trabalho e reunião, de projetos de reflorestação e financiamento a cemitérios, pontes e parques, de obras de arquitetos de nomeada a obras de artesãos anónimos. Esta abordagem pluralista pode não corresponder de imediato à definição usual da palavra "arquitetura", mas é o mais próximo que conseguimos chegar da mensagem central que queremos que este Prémio transmita.

O júri voltou este ano a explorar projetos que aumentam os limites da própria disciplina arquitetónica, reconhecendo que o conhecimento novo surge por vezes no espaço entre as antigas categorias. Ao fazê-lo, o júri reconheceu a forma como as iniciativas arquitetónicas podem oferecer um palco no qual as tensões do nosso tempo podem ser coreografadas e negociadas, preenchendo, por exemplo, a lacuna entre o cosmopolita e o local. A grande arquitetura pode recordar-nos que o pluralismo começa com a diferença e que não exige que deixemos para trás as nossas preciosas identidades. É por isso que o Pluralismo, a quarta das qualidades que mencionei, é tão importante para a missão arquitetónica. 

Vale a pena ter em conta estas quatro qualidades numa altura em que assinalamos a Décima Terceira Apresentação do Prémio Aga Khan para a Arquitetura: A Integração do Passado e do Futuro, a harmonia entre Natureza e Humanidade, a Adaptação a Desafios sem Precedentes, e a dedicação aos Ideais Pluralistas.  

Os seis projetos arquitetónicos que celebramos esta noite reafirmam os Princípios Fundadores do Prémio, ajudando-nos igualmente a projetar esses princípios para a quinta década do programa.  

O Sagrado Alcorão ordena que a humanidade modele o nosso ambiente terrestre, como bons regedores da Criação Divina. Com este espírito, seja em momentos de euforia ou desapontamento, esperamos que o Prémio Aga Khan para a Arquitetura aponte sempre para uma arquitetura de otimismo e harmonia, uma força poderosa de elevação da qualidade de vida humana.  

Obrigado.