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Discurso de Sua Alteza o Aga Khan no Banquete Oficial, Moçambique
Vossa Excelência, Presidente Guebuza Excelentíssima Senhora Primeira Dama Vossa Excelência, Primeira-Ministra Honrável Presidente da Câmara Municipal Honrável Senhora Governadora de Maputo Honráveis Senhores Ministros Excelências Senhoras e Senhores É com enorme satisfação que exprimo, Sr. Presidente, a Vossa Excelência, aos seus convidados, e ao povo deste país, a minha profunda gratidão pelas calorosas boas vindas. O povo Moçambicano tem um dom extraordinário em fazer com que as visitas se sintam verdadeiramente acolhidas no seu país. Na qualidade de convidado anterior, sou um bom conhecedor da especial qualidade de uma boa vinda Moçambicana – e estou profundamente grato pelas gentilezas que partilharam comigo. Um aniversário é sempre uma ocasião para reflexão – para fazermos uma retrospectiva do passado e para olharmos o futuro. Esta noite, ao fazermos essa reflexão, podemos fazê-lo com um especial sentido de esperança e de promessa – pelo futuro de Moçambique e pelo futuro de África. Como sabeis, o futuro de África tem ocupado um lugar central nos meus pensamentos, no decorrer das últimas cinco décadas. O meu interesse cresceu, em parte, devido à história das pessoas Ismaili em África – a qual remonta mais do que século e meio. Fiquei também, fascinado pelos acontecimentos emocionantes que definiram a independência nacional e que ocorreram nos primeiros anos do meu Imamat, quando culturas orgulhosas e anciãs – após tantos anos de domínio colonial – iniciaram a sua viagem, no sentido da estabilidade e do progresso, como países de auto-governação. Essa viagem tem sido frequentemente difícil, especialmente em Moçambique. Mas esse passado, por vezes profundamente doloroso, já não existe – e os Moçambicanos voltam-se, agora, para uma nova era de progresso e de esperança. Nos últimos catorze anos de história pós-conflito – passaram de taxas de crescimento negativas, ao nível de oito por cento ao ano, a taxas de crescimento positivas ao mesmo nível! Isto é um feito extraordinário. Claro que ainda restam grandes desafios. Os problemas da pobreza, doença, e analfabetismo ainda são significativos. Mas o vosso progresso recente foi edificado sobre princípios sólidos – e, por essa razão, Moçambique transformou-se num exemplo valioso para todo o mundo em desenvolvimento. A vossa taxa de crescimento é uma das melhores de África – que foi construída, não sobre diamantes, nem sobre petróleo, conforme referido pelo Sra. Primeira Ministra Diogo – mas sobre o desenvolvimento do potencial humano e da consolidação dos processos democráticos. Moçambique aprendeu a estabelecer prioridades ponderadas – a estabelecer indicadores claros para o progresso, e depois, cautelosamente, medir o seu progresso face a esses indicadores. Uma das qualidades primárias que torna Moçambique num exemplo a seguir, é a vossa confiança na sabedoria profissional ao invés de limitações ideológicas. Dentro desse espírito, criaram uma anuência alargada no âmbito de diversos parceiros – públicos e privados, oriundos da sociedade civil e da comunidade internacional. No prosseguimento dos vossos grandiosos objectivos, têm adoptado uma postura de inclusão ao invés de exclusão. Numa era em que a frustração por vezes gera cinismo, em torno da possibilidade do progresso, Moçambique pode proporcionar inspiração e encorajamento a outras sociedades pós-conflito. E há mais. Enquanto Moçambique abre o caminho para o progresso no âmbito económico e social, também detém um papel de liderança na diplomacia regional. As contribuições do antigo Presidente Chissano em regiões sensíveis, são clara e particularmente reconhecidas. O posicionamento de Moçambique, como um membro altamente respeitado da comunidade das nações, permitirá que assuma um papel estratégico de grande importância, nas relações entre os seus vizinhos a sul e a norte – entre Comunidade de Desenvolvimento Sul Africana e a Comunidade da África Oriental. O ingrediente principal de todos estes esforços – dentro de Moçambique e a sua vizinhança regional, é o genuíno espírito de parceria – a compreensão de que em conjunto, conseguimos alcançar objectivos que separadamente, nunca seriam concretizáveis. As instituições da nossa Rede para o Desenvolvimento Aga Khan, têm vivido esse espírito aqui sob variadas formas, e ao longo de muitos anos – incluindo o nosso Acordo de Cooperação, assinado há quase dez anos. A maior parte do nosso trabalho, como sabeis, tem envolvido as áreas do norte, e especialmente o Corredor de Desenvolvimento de Matwara. Um dos projectos que gostaria de destacar é a Unity Bridge, que liga o norte de Moçambique ao sul da Tanzânia. Neste caso, alcançamos literalmente as fronteiras nacionais, de uma forma que estimule o progresso para além de ambas as fronteiras. Devido à Unity Bridge – e outros projectos relacionados – os nossos investimentos na área do lazer e do turismo no sul da Tanzânia, poderão gerar um efeito multiplicador em Moçambique. De forma semelhante, aqui e noutras zonas, sempre que conseguimos abranger fronteiras com pontes, o progresso acelerará e sonhos se concretizarão. Devemos, também, apoiar os jovens a construir “Pontes para o Futuro” – esse é, de facto, o nome de um dos nossos novos programas académicos. A nossa filosofia assenta na edificação de liderança para o futuro, através da educação dos nossos jovens, com base no seu potencial académico – e não com base no estatuto social ou rendimentos familiares. Essa filosofia está no seio do nosso programa das Academias Aga Khan. Muitos dos presentes estiveram na cerimónia de lançamento da primeira pedra de uma nova Academia Aga Khan em Maputo, há três anos. Esta fará parte integrante de uma rede de dezoito escolas – situadas em catorze países diferentes – todas cursando o currículo do international baccaleaureate. Este sistema de escolas terá objectivos comuns significativos. Por exemplo, cada uma será apoiada por um Centro de Desenvolvimento Social – um espaço para dar formação aos professores – que utilizará as mais avançadas técnicas de boas práticas a nível mundial. Estes professores irão servir não só a Academia, assim como outras escolas em Moçambique. Em todas estas Escolas, inclusivamente, a nossa palavra-mestre será “Pluralismo”, à medida que formamos líderes, que possam lidar eficazmente, com uma diversidade de povos num mundo globalizado. Alguns objectivos comuns serão mais facilmente concretizáveis do que outros. Aqui em Moçambique, por exemplo, não existe uma tradição de internatos ao nível primário e secundário, e não há uma tradição significativa na educação prestada na língua inglesa. No entanto, ambos os conceitos - a educação em regime de internato e a educação prestada na língua nacional e na língua inglesa, constituem dois objectivos comuns para a nossa alargada rede de academias. Estas são questões que devemos abordar com prudência – prosseguindo objectivos sólidos e a longo prazo, sem contudo deixar de considerar as realidades a curto prazo. Numa frente de desenvolvimento económico, estamos a projectar uma nova fábrica de vestuário para exportação, que empregará, numa primeira fase, aproximadamente 700 mulheres. Esperamos que o projecto arranque em Junho próximo – mas o seu sucesso vai depender, novamente, na parceria, através de um ambiente de trabalho facilitador. A geração de energia e a electrificação rural é outra área crítica. Recentemente, o Fundo para o Desenvolvimento Aga Khan assumiu um papel financiador fulcral num dos maiores projectos hidroeléctricos na história de África, no Uganda – situado em Bujagali no Nilo Superior. Esperamos poder, agora, aplicar essa experiência nos projectos de Moçambique. Entretanto, também investimos num novo cabo de fibra óptica que fará a ligação da África Sub-Sahariana e Oriental (incluindo Moçambique), com Mumbai na Índia e Marselha em França. Esta ligação irá possibilitar o acesso alargado, a baixo custo, nas comunidades rurais dentro de Moçambique e irá requerer investimento adicional à estrutura de base existente. Enquanto que, por um lado, estes projectos de infra estruturas de grande dimensão avançam, também continuamos a trabalhar a um nível micro económico – como por exemplo, em cerca de 146 aldeias, incluindo 21,000 lares em Cabo Delgado. Aí, o comércio das culturas de rendimento, o armazenamento de comida, o desenvolvimento de variadas fontes de rendimentos e, a criação das Organizações de Desenvolvimento das Aldeias, tornaram-se trivialidades em muito pouco tempo. Novos programas de desenvolvimento rural contribuem para o aumento das colheitas, para a circulação de informação relacionada com a saúde e a nutrição, e na expansão de programas de vacinação e de saneamento. Um relatório recente do Banco Mundial recomenda veementemente a melhoria da produtividade agrícola dos países Africanos – tal como está a ser feito pelo Governo Moçambicano. Contudo, a nossa experiência, particularmente na Ásia, ensina-nos que chegará, certamente, uma altura em que não será possível continuar a desenvolver a produtividade agrícola – o potencial de crescimento simplesmente esgotará. E, quando isso acontecer, as economias agrícolas serão forçadas a procurar novas actividades para assegurar o sustento das suas populações. No caso de Moçambique, este cenário poderá ser ainda muito longínquo, mas a diversificação da economia é uma questão que deveremos começar a ponderar. Uma área que pode começar a ser desenvolvida agora, em minha opinião, é o sector do lazer e do turismo. A AKDN tem contribuído, com recursos consideráveis, para a expansão deste sector. Estamos prestes a iniciar, por exemplo, um grande projecto de renovação no Polana Serena Hotel em Maputo, e visionamos um enorme potencial na extensão do nosso circuito de unidades de turismo e de safari, existentes na África Oriental, para Moçambique. Simultaneamente, em Pemba e nos seus arredores, projectos de micro crédito estão a gerar novas oportunidades económicas – antecipamos que estes programas tripliquem para o nível de 3 milhões de dólares ao longo de 3 anos. Tivemos, igualmente em consideração, a preocupação do presidente a respeito da falta de serviços financeiros em áreas rurais, e estamos preparados para dar resposta a esta preocupação, ao estabelecermos um banco rural de micro finanças no norte de Moçambique. Em todas estas formas, portanto, o nosso compromisso assenta em acrescentar às fundações, já estabelecidas por vós, para futuros progressos. À medida que o fazemos, apercebemo-nos cada vez mais, e a cada dia que passa, da importância de parcerias eficazes. É no âmbito desse espírito de parceria que venho a Moçambique, agradecido por tudo o que já concretizámos juntos no passado, e inspirado por todas as coisas que intentaremos, em conjunto, no futuro. Temos orgulho em associarmo-nos a vós, na continuação desta grandiosa historia, que é o progresso de Moçambique. Obrigada.