Está aqui

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  • Na região de Pamir, no Tajiquistão, a história deste ex-professor é o exemplo acabado da abordagem holística e centrada no ser humano que a AKF tem posto em prática ao nível da segurança alimentar e da melhoria da qualidade de vida.
    AKDN/Dilafruz Khonikboyeva
Fundação Aga Khan
Na Fundação Aga Khan, todos os dias são o Dia Mundial da Alimentação

Por Didier Van Bignoot, Consultor Global da Fundação Aga Khan para a Agricultura Sustentável e Segurança Alimentar

Nunca na história da humanidade existiu uma tão grande variedade de alimentos no mercado nem uma ciência tão avançada ao nível da agricultura ou do processamento de alimentos. No entanto, raramente a questão da segurança alimentar esteve tão generalizada e foi tão complexa, variando entre uma luta diária pela sobrevivência e as preocupações em torno da segurança nutricional.

Os números são assustadores. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, num mundo que produz comida suficiente para toda a população, mas que desperdiça cerca de um terço:

  • cerca de 800 milhões de pessoas ainda passam fome
  • 60% são do sexo feminino
  • 45% das mortes infantis são causadas por subnutrição

Ao mesmo tempo, quase 2 mil milhões de pessoas têm peso a mais e as doenças não-transmissíveis relacionadas com a nutrição estão a crescer rapidamente.

Hoje, a produção de alimentos (e a agricultura em particular) está bastante ligada às alterações climáticas, um fenómeno que exacerba em grande escala a degradação ambiental e a perda de biodiversidade.

Ao nível do ambiente, mais de 60% dos solos agrícolas são considerados como estando destruídos, 70% da escassa água doce disponível é usada na agricultura, e milhões de hectares de floresta tropical ardem todos os anos para satisfazer a procura por mais terrenos aráveis e pastagens.

No que à biodiversidade diz respeito, as populações de vertebrados em todo o mundo diminuíram em 60% desde 1970, as espécies de insetos, incluindo os essenciais polinizadores, estão a enfrentar um apocalipse, e as espécies vegetais desaparecem atualmente a um ritmo 500 vezes mais rápido do que seria natural. Os ecossistemas agrícolas não são exceção, eles que enfrentam uma extinção igualmente ameaçadora e que vai ocorrendo silenciosamente através da erosão genética de culturas e animais, causada principalmente pela padronização industrial.

Em resposta, certos avanços espetaculares na tecnologia (e em particular na biotecnologia) abrem excelentes perspetivas, com promessas de culturas mais produtivas, uma maior resistência a pragas e doenças, e uma tolerância a pressões ambientais. Apesar de certas conquistas indesmentíveis, o uso de tecnologia arrastou milhões de agricultores para territórios desconhecidos, com consequências por vezes desastrosas, mostrando que as soluções para o futuro da alimentação não podem ficar dependentes apenas da tecnologia.

A Fundação Aga Khan (AKF) acredita em sistemas alimentares integrados que contribuam para uma estratégia global de adaptação/mitigação. A AKF promove uma abordagem à alimentação centrada no ser humano, que visa a construção de uma sociedade civil forte e resiliente, capaz de projetar e implementar soluções locais inovadoras, nas quais as mulheres e as jovens possam desempenhar um papel fundamental.

A nossa intervenção na área da Agricultura e Segurança Alimentar traduz-se na adaptação de sistemas resilientes e na apropriação de tecnologias sustentáveis para a gestão dos solos, água, biodiversidade e biomassa, agricultura de conservação, agricultura regenerativa, agrossilvicultura, integração pecuária, autonomia das explorações agrícolas e adição de valor, infraestruturas comunitárias de irrigação, armazenamento, processamento, transporte e energia, e um acesso mais alargado a informações e práticas. Envolve tecnologias de CI e sensibilização através de redes sociais, inclusive através da produção e utilização de filmes técnicos. Em 2018, quase 1 milhão de pessoas beneficiou diretamente do programa de Agricultura e Segurança Alimentar da AKF.

A nossa intervenção na área da Saúde e Nutrição traduz-se em esforços consideráveis ao nível da suplementação de nutrientes, em práticas melhoradas nos cuidados materno-infantis e na nutrição dos adolescentes, principalmente das raparigas. Em 2018, estas atividades tiveram um impacto considerável na nutrição de mais de 5.5 milhões de pessoas.

Na Educação, traduz-se em novas oportunidades para adolescentes e adultos, principalmente nas competências com procura no mercado do sector dos alimentos e nas cadeias de valor. Em 2018, estas intervenções beneficiaram mais de 600.000 pessoas.

A nossa intervenção na área do Desenvolvimento na Primeira Infância traduz-se na multiplicação do potencial de cada bebé, criando uma sinergia entre uma dieta correta e uma estimulação adequada, envolvendo todos os progenitores, inclusive os pais. Em 2018, estes esforços beneficiaram quase 200.000 crianças.

A nossa intervenção na área da Inclusão Económica traduz-se num empreendedorismo local mais vibrante, que resulta em pequenos circuitos de alimentos eficientes e fiáveis e em mercados fortalecidos. Em 2018, estas intervenções tiveram um impacto concreto em quase 160.000 beneficiários diretos.

A nossa intervenção na área da Sociedade Civil traduz-se no desenvolvimento de ferramentas sociais e de interligação inovadoras que criem comunidades adequadas e resilientes. Em 2018, 4.5 milhões de pessoas beneficiaram diretamente das ações da AKF ao nível da sociedade civil.

As pessoas e as comunidades com as quais trabalhamos são multifacetadas e merecem um desenvolvimento que tenha em consideração todos estes aspetos. Vejamos o exemplo do ex-professor de inglês atualmente aposentado em Roshorv, Bartang, Tajiquistão. Neste Outono, ele conseguiu colher vários tipos de batatas e trigo para alimentar a sua família e vender no mercado. Também plantou alfafa, algo que aprendeu no âmbito dos nossos programas de educação, que o ajudaram a nutrir e a preparar o solo. Ele conseguiu comprar uma porção dos 30 hectares de terreno que a organização comunitária local adquiriu, com o apoio do nosso programa para a sociedade civil. Hoje consegue poupar dinheiro e entrar no mercado, apoiado pela nossa intervenção ao nível da inclusão económica. Ele conseguiu regar as suas culturas apesar dos problemas de acesso à água exacerbados pelas alterações climáticas graças à construção de um canal no âmbito da nossa intervenção no sector da agricultura e segurança alimentar. Está no âmago de tudo o que fazemos.

O mesmo vale para milhares de agricultores em Madagáscar que foram capazes de adotar sistemas agrícolas mais resilientes, sustentáveis e produtivos à cultura do arroz, enquanto investiam na plantação de batata-doce alaranjada e outros alimentos capazes de oferecer uma vasta diversidade de nutrientes e vitaminas essenciais.

Porque na AKF, todos os dias são o Dia Mundial da Alimentação.