Mtomondoni é uma aldeia dos arredores de Mombaça, a segunda maior e a mais antiga cidade do Quénia. Longe da agitação do centro de Mombaça, aqui a comunidade está unida, apesar dos desafios que enfrentam. As taxas de emprego são baixas, particularmente entre os jovens, e foram exacerbadas pelos impactos continuados decorrentes da pandemia da COVID-19. A falta de oportunidades para a juventude nesta aldeia é uma grande barreira no sentido de quebrar o ciclo da pobreza.
Lucy Nyawira tem vivido em Mtomondoni a maior parte da vida. Com 27 anos, vive com os pais, o irmão mais novo e o filho de sete anos. A pandemia atingiu fortemente a sua comunidade. “Os jovens que tinham emprego foram despedidos, os que estavam na escola ficaram trancados em casa”, diz Lucy. “O facto de as pessoas não poderem trabalhar e pagar a sua comida deu azo a muitos problemas como a violência de género e os assaltos.”
Em comunidades como a de Mtomondoni, os grupos comunitários são essenciais para formar uma frente unida contra os problemas sociais, como a pobreza, a violência baseada no género e a radicalização, e para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, à educação e ao emprego. No pico da pandemia, estes grupos foram uma tábua de salvação para jovens como Lucy, que é membro de um grupo local de jovens chamado Mwamko, e também de uma organização maior chamada Safe Community Youth Initiative (SCYI), a Iniciativa Jovem para uma Comunidade Segura. “Não tínhamos comida, foi muito difícil”, explica. “A SCYI deu-nos milho, farinha e óleo para podermos cozinhar. Também nos deram máscaras e desinfetante para as mãos para nos protegermos contra o vírus.”
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Lucy já faz parte da SCYI há muitos anos e tem assumido várias funções enquanto voluntária, incluindo como mobilizadora comunitária (que incluir fazer a ligação entre as raparigas e os serviços de planeamento familiar), recebendo ainda formação para se tornar uma agente comunitária de saúde. Isto manteve-a ocupada durante a pandemia, uma vez que passou muito tempo a informar a sua comunidade acerca da COVID-19, para eliminar o medo e a desinformação, que ela diz ser abundante. Apesar da importância deste cargo, o mesmo não era remunerado e, como muitos dos seus colegas, Lucy tinha dificuldades em encontrar trabalho devido à pandemia.
No final de 2021, teve a oportunidade de participar num novo programa de formação oferecido pela SCYI com o apoio do programa mais alargado de resposta à COVID-19 da AKF na África Oriental. O programa financiado pela UE divide-se em três pilares: a resiliência da comunidade, o reforço do sistema de saúde e o bem-estar e a subsistência dos jovens. Este último inclui proporcionar formação em empreendedorismo aos jovens, para que possam começar os seus próprios negócios e tornarem-se mais autossuficientes, e não estarem dependentes das limitadas oportunidades de emprego disponíveis desde a COVID-19. Lucy é um dos quase 2000 jovens em todo o Quénia, Uganda e Tanzânia que já concluíram a formação até ao momento.
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Embora pequena em estatura, Lucy enche uma sala com a sua presença – mas, como ela diz, descobriu esta confiança recentemente. “Desde o início da formação até agora, houve grandes mudanças. Se alguém tivesse uma foto do antes e depois, poder-se-ia ver bem a diferença!”
Como resultado da formação em empreendedorismo, Lucy está atualmente a gerir dois negócios de sucesso a partir de casa, em Mtomondoni. Como qualquer bom empreendedor, Lucy identificou uma necessidade na sua comunidade como a base para o seu negócio. “Inicialmente, tive três ideias para um negócio. A primeira era vender água potável a partir de um tanque no meu jardim porque não há água aqui em Mtomondoni.”
Depois de apresentar esta ideia ao seu grupo de jovens, eles ajudaram-na a garantir um empréstimo para lançar o seu negócio. Com o empréstimo, ela comprou e instalou um tanque de água de 5000 litros. Menos de três meses após o início da formação, o ‘Lulu's Water Point’– como ela orgulhosamente lhe chama – estava a funcionar, fornecendo água potável limpa e segura à sua comunidade. Ela vende a água a um preço acessível – apenas 20 xelins quenianos por 20 litros (cerca de 0,17 €) – porque, como ela diz, “quero ganhar a vida e ajudar a minha comunidade”.
Após o segundo mês de formação, e com a sua confiança a aumentar, Lucy iniciou um segundo negócio. Com um bacharelato em Biologia, Lucy sempre sonhou ter o seu próprio viveiro de plantas. Combinando as suas novas competências de empreendedora com os seus conhecimentos de horticultura, ela fez uma proposta à Organização de Investigação Agrícola e Pecuária do Quénia (KARLO) para lhes fornecer 6000 mudas de manga e 5000 mudas de limão até ao final de 2022. O contrato foi aprovado e Lucy está agora a cultivar as mudas no seu jardim, a poucos passos de distância do tanque de água. Ela já forneceu 1450 mudas de manga à KARLO e tem distribuído outras pelos agricultores locais em Mtonondoni.
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Depois de apenas seis semanas de formação, Lucy não conseguia acreditar na rapidez das mudanças. “Se me tivessem dito em Dezembro, ‘Lucy, tu vais ter não um, mas dois negócios, e vais ter o viveiro que sempre desejaste’, eu não teria acreditado que era possível. Agora consigo ver que estou a ir na direção certa – eu só precisava de uma oportunidade.”
Grata por esta oportunidade, Lucy quis partilhar o conhecimento que adquiriu para ajudar outros jovens aspirantes a empreendedores. Após cada sessão de treino, Lucy regressava ao Grupo de Jovens Mwamko e partilhava com os seus colegas as competências que tinha aprendido. “Há uma [pessoa] que tem uma loja de verduras, uma que cria galinhas e outra que vende roupa em segunda mão.” Até agora, no Quénia, já tiveram acesso à formação em empreendedorismo apoiada pela AKF mais de 1800 jovens, através de iniciativas de aprendizagem entre colegas como a de Lucy.
Enquanto jovem mãe, Lucy é particularmente solidária para com as mulheres que tiveram uma experiência semelhante à dela. Muitas das mulheres do seu grupo foram mães aos 15 ou 16 anos. Tiveram de abandonar a escola e desde então têm tido dificuldades em encontrar trabalho, mas Lucy está a mostrar-lhes que elas não têm de desistir. “Eu disse-lhes, ser mãe cedo não é o fim do mundo. É como uma pausa – têm de se sentar, refletir sobre a vossa vida e voltarem a levantar-se, porque a vida é curta. Vocês podem adquirir novas competências e, tal como eu, serem os vossos próprios chefes!”
Com o apoio dos seus grupos de jovens, Lucy conseguiu cumprir o seu potencial. Ela seguiu o seu sonho de ter um viveiro de plantas, ajudando ao mesmo tempo a sua comunidade através do ‘Lulu's Water Point’ e da partilha das suas competências empresariais com os seus colegas. O seu espírito empreendedor inato e o desejo de ajudar a sua comunidade mudaram a sua vida para melhor, e a partir do seu jardim – entre os seus dois negócios emergentes – o futuro parece risonho.
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Um agradecimento especial à Lucy por partilhar a sua história e à equipa da Safe Community Youth Initiative pelo seu apoio.
Este é um projeto financiado pela União Europeia e pela Fundação Aga Khan e implementado pelas agências da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. As opiniões expressas vinculam exclusivamente o(s) seu(s) autor(es) e não refletem necessariamente as da União Europeia. Pelo que nem a União Europeia nem a autoridade concessora podem ser responsabilizadas por elas.