Fundada e gerida por Sua Alteza o Aga Khan, a Rede Aga Khan de Desenvolvimento (AKDN) reúne várias agências de desenvolvimento, instituições e programas que trabalham principalmente nas partes mais pobres da Ásia e de África. Uma característica central da abordagem da AKDN ao desenvolvimento passa por projetar e implementar estratégias nas quais as suas várias agências participem em cenários específicos para ajudar os mais necessitados a alcançar um bom nível de autoconfiança e a melhorar a qualidade de vida.
A AKDN acredita que um desenvolvimento bem-sucedido ocorre quando existe uma continuidade de atividades de desenvolvimento que oferecem às pessoas numa determinada área não apenas um aumento dos seus rendimentos mas uma ampla e sustentada melhoria na sua qualidade de vida no geral. Portanto, na maioria das áreas onde atuam, as agências da AKDN integram as suas atividades para reforçar os esforços e o impacto de cada uma delas.
A AKDN reconhece que conseguir mudanças positivas a longo prazo é um fenómeno complexo e multifacetado. Durante muitos anos, as instituições de desenvolvimento concentraram-se em objetivos definidos num âmbito mais restrito - sem muita coordenação com organizações fora do seu domínio. Muitas julgavam que o aumento de rendimentos levaria ao desenvolvimento. Contudo, segundo a experiência da AKDN, a disparidade de rendimentos é apenas um dos aspetos da pobreza. Existem outras facetas que podem ser igualmente prejudiciais: a falta de acesso a uma educação de qualidade, a incapacidade de mitigar os efeitos de desastres, ou a ausência de organizações competentes na sociedade civil.
Como resultado, apesar do aumento dos rendimentos, a qualidade de vida no geral permanece praticamente inalterada. Sua Alteza o Aga Khan explicou isso mesmo num discurso em 2002 em Amesterdão. “O desenvolvimento só é sustentável se os beneficiários se tornarem, gradualmente, os mestres do processo. Tal significa que as iniciativas não podem ser contempladas exclusivamente em matéria de economia, mas sim como programas integrados que também englobem as dimensões sociais e culturais”, explicou. Ofereceu de seguida alguns exemplos. “A educação e a formação de competências, a saúde e os serviços públicos, a conservação do património cultural, o desenvolvimento de infraestruturas, o planeamento e reabilitação urbanos, o desenvolvimento rural, a gestão de água e energia, o controlo ambiental e até a política e o desenvolvimento legislativo estão entre os vários aspetos que devem ser tomados em conta.”
Na África Oriental, por exemplo, os hospitais e clínicas dos Serviços Aga Khan de Saúde (AKHS) e a Universidade Aga Khan (AKU) oferecem uma rede de instalações de saúde que vão desde clínicas rurais a um grande hospital universitário em Nairobi. A AKU também ministra programas de graduação de médicos e enfermeiros na região de modo a criar recursos humanos. Para além da expansão das instalações médicas em Nairobi, a AKU planeia a construção de uma Faculdade de Artes e Ciências em Arusha, na Tanzânia. As Academias Aga Khan, que visam educar uma nova geração de líderes para África, começaram a operar com a sua primeira escola em Mombaça, no Quénia, em 2003. Cada academia é um centro de recursos para o desenvolvimento profissional dos professores na sua área.
As empresas do projeto do Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico (AKFED) desempenham um importante papel económico no apoio de projetos sociais. A Frigoken, por exemplo, trabalha com 75 000 pequenos agricultores para processar feijão-verde para o mercado europeu. O Nation Group, um componente importante da sociedade civil na África Oriental desde que foi lançado independentemente, publica jornais e transmite rádio e televisão. O projeto hidroelétrico de Bujagali, de 900 milhões de dólares, o primeiro projeto privado de energia hidroelétrica do Uganda, produz quase 50% da eletricidade do país. A Serena Hotels, outra empresa do projeto AKFED que gere 24 propriedades hoteleiras na região, tem sido uma importante entidade inovadora no turismo cultural e ambientalmente sensível. Outras empresas do projeto operam em setores-chave, como embalagens para a agricultura, finanças, aviação e produtos farmacêuticos. O Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC), a agência cultural da Rede, concentra-se na cultura como um meio de potenciar os bens culturais de modo a estimular o crescimento económico.
O objetivo deste esforço integrado é introduzir uma série de matérias e uma variedade de catalisadores que, em conjunto, ajudem a promover um profundo avanço do desenvolvimento económico, cultural e social e a melhoria da qualidade de vida.
Sua Alteza o Aga Khan cumpre parte das suas responsabilidades hereditárias como Imã (líder espiritual) dos muçulmanos ismaelitas através da AKDN. Assim, A AKDN é uma tentativa contemporânea do Imamat ismaelita de concretizar a consciência social do Islão através da ação institucional. A estrutura ética da AKDN surge, portanto, da conjunção destas responsabilidades.
“A ética do Islão”, disse Sua Alteza o Aga Khan, “atravessa os domínios da fé de um lado e a vida prática do outro - aquilo a que chamamos Din e Dunya. Deste modo, as minhas responsabilidades espirituais na interpretação da fé são acompanhadas por um forte envolvimento em questões relativas à qualidade de vida e ao bem-estar. Este último compromisso estende-se não apenas à comunidade ismaelita mas também àqueles com quem estes partilham as suas vidas - seja a nível local, nacional e ou internacional".
Essencial para este quadro ético é a compaixão pelos menos afortunados. Mas, ao mesmo tempo, as formas de compaixão não devem comprometer a dignidade dos seres humanos. A caridade pode assumir a forma da riqueza material, mas também pode ser uma dádiva de tempo, conhecimento, capacidade e competências. O objetivo final do trabalho da AKDN é ajudar as pessoas a ultrapassarem a dependência e a tornarem-se autossuficientes. A ética da AKDN inclui a inclusão e o pluralismo.
A AKDN não limita o seu trabalho a uma determinada comunidade, país ou região, e visa melhorar as condições de vida e as oportunidades das pessoas, independentemente da sua religião, raça, etnia ou género. Os funcionários da AKDN são eles próprios de diferentes credos e origens. A AKDN acredita que a sociedade funciona melhor quando permite o espaço e os meios para que os seres humanos atinjam o seu potencial máximo, independentemente da sua origem. A abordagem destaca a educação e a pesquisa como alguns dos meios através dos quais os indivíduos e as sociedades podem alcançar todo o seu potencial.
Com esse objetivo, a própria AKDN gere mais de 200 escolas assim como duas universidades com 11 campi, providenciando uma série de programas de desenvolvimento escolar desde a primeira infância até à universidade. Outros desenvolvem os recursos humanos, constroem capacidades institucionais, conduzem pesquisas relevantes e defendem melhorias na educação.
O quadro ético engloba a assistência a doentes e deficientes. Isto traduz-se dentro da AKDN como um compromisso para com os cuidados de saúde. A AKDN oferece serviços de saúde através de mais de 200 instalações de saúde, incluindo 13 hospitais; instala sistemas de abastecimento de água e saneamento; promove a construção de habitações seguras e higiénicas; gere hospitais universitários que formam prestadores de cuidados de saúde, incluindo enfermeiros, médicos e profissionais de saúde associados - no Paquistão e na África Oriental; e realiza pesquisas em saúde, muitas vezes em conjunto com outros parceiros. Os seus programas de saúde chegam a mais de 5 milhões de pacientes todos os anos.
A preservação de uma mente sã e das capacidades mentais estão entre os princípios fundamentais do código ético do Islão. A AKDN também acredita que existe uma responsabilidade coletiva para com a Terra - de gestão ambiental. Cada geração é eticamente obrigada a deixar um ambiente social e físico saudável e sustentável. Esta ética é colocada em prática em muitos parques e jardins construídos pela AKDN em cidades com uma urbanização rápida, os quais atraíram dezenas de milhões de visitantes; nas centrais hidroelétricas que fornecem eletricidade a nações inteiras a partir de fontes renováveis; programas de reflorestação que plantaram mais de 100 milhões de árvores; medidas de gestão da água em áreas remotas e com poucos recursos; a recuperação de centenas de hectares de terrenos degradados; e técnicas de adaptação climática como fogões eficientes e irrigação por gotejamento.
A governança e o comportamento ético também são essenciais para a abordagem da AKDN. A AKDN acredita que quem controla e administra recursos para o benefício de terceiros deverá estar sujeito ao dever de curadoria. Assim, a “governança” é construída sobre os princípios de confiança, idoneidade, equidade e responsabilidade. É expectável que todos os programas da AKDN operem segundo estes princípios, mesmo em contextos em que tal seja difícil.
Uma sociedade civil vibrante e competente é a pedra angular de uma nação saudável e próspera - e uma parte essencial do trabalho da AKDN. No entanto, em muitas partes do mundo, a sociedade civil sofre da falta de conhecimento técnico, recursos humanos e meios financeiros. Para fazer face a estas lacunas, a AKDN tem apoiado cuidadosamente instituições sólidas que experimentam, adaptam e acomodam a diversidade.
Fundadas sobre os princípios da ética e dos valores que impulsionam o progresso e a mudança positiva, estas instituições da sociedade civil - de educação, saúde, ciência e pesquisa, e cultura, para citar algumas - aproveitam a energia de certos cidadãos comprometidos com o bem comum.
A AKDN apoia 40 000 organizações da sociedade civil que contam com 1,3 milhões de membros em mais de 30 países. No sul da Ásia, por exemplo, a AKDN trabalha com o Centro Paquistanês de Filantropia para ajudar a tornar as ONG mais eficazes, responsáveis e relevantes na resposta às necessidades sociais das comunidades que servem. Na África Oriental, a AKDN está a utilizar dispositivos móveis para ligar comunidades remotas e marginalizadas a cursos de e-learning e para divulgar técnicas agrícolas inovadoras por agricultores carenciados.
Ao longo de 50 anos, a AKDN tem trabalhado em ambientes desafiantes ou parcos em recursos, implementando respostas inovadoras à escassez de água, degradação dos terrenos, risco sísmico, segurança alimentar, escassez de forragem e combustível, assim como muitos outros desafios que esses ambientes apresentam. Com as alterações climáticas, muitos destes problemas agravaram-se ou disseminaram-se por uma área maior.
Em cada contexto, a AKDN está capacitada para aplicar cinco décadas de conhecimento e experiência a esses problemas.
O premiado Programa Aga Khan de Apoio Rural, por exemplo, surgiu inicialmente da necessidade de gerir melhor os recursos naturais escassos, incluindo água, alimentos, forragem e energia, que haviam ficado ameaçados pelos desafios climáticos e provocados pelo homem.
Desde a década de 1980, os programas rurais da AKDN têm ajudado os agricultores a gerir os seus recursos naturais e a gerar fontes alternativas de rendimento. Têm ajudado comunidades a explorar projetos de irrigação por gotejamento, biogás, centrais hidroelétricas comunitárias, moinhos de vento e energia solar. A AKDN também ajudou a construir ativos comunitários que abordam as questões climáticas a longo prazo, tais como a plantação de mais de 100 milhões de árvores e o desenvolvimento de fogões sem fumo mais eficientes - entre outros 70 melhoramentos do habitat de baixo custo - que reduzem a necessidade de lenha.
Para enfrentar a crescente ameaça representada pelos perigos naturais e as alterações climáticas, a AKDN reuniu uma série de atividades desenhadas para resolver problemas de habitats humanos e de adaptação climática, incluindo projetos de construção segura e resistente a terramotos, planeamento de aldeias e mitigação de riscos naturais, abastecimento de água e saneamento, e melhores condições de vida doméstica, principalmente em comunidades rurais.
A AKDN está empenhada em destacar o papel fundamental das mulheres no processo de desenvolvimento e em facilitar a sua participação. Ao mesmo tempo, procura formas de se envolver com os homens em torno das mudanças estruturais e de atitude que surgem dos programas que buscam beneficiar as mulheres.
Na maioria dos países e comunidades, o género determina os papéis domésticos e produtivos. As mulheres geralmente têm responsabilidades em ambos, mas a sua capacidade de contribuir para a sociedade é limitada por tradições sociais, culturais e políticas. Em comparação com os homens, as mulheres tendem a ser menos instruídas, mais limitadas nas suas opções e menos bem pagas. No entanto, as mulheres tomam conta dos lares, criam os filhos, passam conhecimentos à próxima geração, cuidam do gado, cultivam e tratam das plantações e, muitas vezes, gerem negócios para complementar o rendimento familiar. As famílias e comunidades beneficiam exponencialmente quando as mulheres são mais bem recompensadas pelo seu esforço e trabalho. Assim que as necessidades de sustento estiverem cobertas, as mulheres imediatamente respondem às necessidades de saúde e educação de outras gerações.
Aumentar a competência e a confiança das mulheres - e, consequentemente, abrir a mentalidade dos homens - é um compromisso de longo prazo da AKDN. Para além de apoiar pesquisas e ações voltadas para tornar a participação das mulheres uma realidade, a AKDN apoia mulheres com planos de crédito para as aldeias, formação em silvicultura, alvenaria, gestão de plantações e gado, contabilidade e marketing. Incentiva a educação e carreiras para as mulheres.
A promoção do pluralismo tem sido um objetivo de muitos dos programas da AKDN, desde o Museu Aga Khan no Canadá até um programa de leitura para crianças no Quirguistão, de um projeto para a integração de imigrantes em Lisboa a escolas de música no Afeganistão.
Para promover a compreensão do papel vital que o pluralismo desempenha, a AKDN e o governo canadiano criaram o Centro Global para o Pluralismo, um importante centro internacional de pesquisa, educação e intercâmbio acerca dos valores, práticas e políticas que sustentam as sociedades pluralistas.
Inspirando-se na experiência canadiana, o centro funciona como um repositório global e uma fonte de conhecimento acerca da promoção de valores, políticas e práticas pluralistas. Leva a cabo pesquisas, concretiza programas, facilita o diálogo, desenvolve materiais pedagógicos e trabalha com parceiros da sociedade civil em todo o mundo para desenvolver as capacidades de indivíduos, grupos, instituições educacionais e governos na promoção de abordagens indígenas ao pluralismo nos seus próprios países e comunidades.
O objetivo geral da AKDN é a melhoria da Qualidade de Vida (QdV), a qual engloba melhorias nos padrões materiais de vida, saúde e educação e um conjunto de valores e normas dos quais fazem parte o pluralismo e a tolerância cultural, igualdade de género e social, organização da sociedade civil e boa governança.
Em 2007, a AKDN iniciou avaliações de QdV em áreas geográficas onde desenvolve programas de desenvolvimento. A iniciativa QdV difere da prática convencional de monitorização e avaliação, a qual é normalmente baseada num projeto ou num setor, e tenta fornecer uma visão geral de como a vida das pessoas vai mudando ao longo do tempo. O principal objetivo é analisar e ajustar as intervenções da AKDN à luz dos resultados.
Os modelos de desenvolvimento exigem tempo para demonstrar a sua eficácia e para permitir que as comunidades locais assumam total responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento futuro. As agências da AKDN assumem, portanto, um compromisso de longo prazo com as áreas em que trabalham.
São guiadas pela filosofia de que um ambiente humano e sustentável deve refletir as escolhas feitas pelas próprias pessoas acerca do modo como vivem e de como desejam melhorar as suas perspetivas em harmonia com o seu ambiente. A sustentabilidade é, portanto, uma consideração fulcral desde o início.
Na experiência da AKDN, o compreensível impulso humanitário, mas de curto prazo, de ajudar os mais carenciados não é normalmente suficiente para retirá-los do ciclo da pobreza. Para a AKDN, a redução da pobreza é vista como parte de uma estratégia de longo prazo para o desenvolvimento dos recursos de uma comunidade de forma a criar autoconfiança.
Tal começa com uma análise aprofundada das múltiplas causas da pobreza, com base numa consulta à comunidade, seguida da implementação de uma estratégia que, no seu conceito e execução, seja de longo prazo. A AKDN também percebeu que, para terem sucesso, os vários programas devem ser implementados simultaneamente, e não sequencialmente.
Portanto, para a AKDN, a redução da pobreza requer um programa integrado que englobe variáveis como a educação e a capacitação, saúde e serviços públicos, conservação do património cultural, desenvolvimento de infraestruturas, planeamento urbano e reabilitação, gestão de água e energia e até políticas e leis.
Com esse objetivo, a AKDN vem construindo instituições e programas de longo prazo há mais de 50 anos - incluindo barragens hidroelétricas que abastecem nações e regiões, escolas, clínicas e hospitais, empresas que oferecem bens e serviços essenciais como produtos farmacêuticos ou embalagens, programas para a primeira infância que dão a crianças carenciadas um empurrão inicial, programas de plantação de árvores que plantam milhões de árvores, parques públicos em cidades com rápido crescimento, hotéis que estabelecem padrões (e ganham prémios) para a gestão ambiental, universidades e escolas de enfermagem que providenciam recursos humanos essenciais para nações em desenvolvimento, grupos de poupança que ajudam os mais pobres dos pobres a enfrentar dificuldades financeiras e a construir um futuro melhor, e um prémio de arquitetura que tem promovido a sustentabilidade e a escala humana e que nesse processo influenciou o discurso arquitetónico ao longo de quatro décadas, entre muitos outros.
A AKDN confia na tradição ismaelita de serviço voluntário para auxiliar na implementação e manutenção dos projetos, especialmente nas instalações de saúde e educação. Outras pessoas fora da comunidade ismaelita participam voluntariamente com as suas energias para a criação ou manutenção de instalações que melhorem a qualidade de vida.